Martim Neves, um “empreendedor” de 16 anos, virou estrela no programa “Prós e Contras” de há uma semana, ao afirmar que “é melhor receber o salário mínimo do que estar desempregado”. A direita austeritária fez do jovem um herói porque se apercebeu imediatamente que ele já estava agarrado pelo pensamento dominante na ideologia neoliberal, segundo o qual, ter um emprego é um luxo cada vez mais raro, ainda que se resuma a uma semiescravatura.
Se levarmos às últimas consequências a máxima “é melhor que nada” ou “é melhor mau que coisa nenhuma”, em especial quando aplicada aos salários, podemos chegar ao ponto de aceitarmos que é melhor receber 1 euro por dia, trabalhando em condições infra-humanas em todos os sentidos, a começar pelo horário de trabalho – acontece aos operários do Bangladesh que confeccionam roupa para empresas multinacionais como El Corte Inglês, Mango, Benetton e outras – do que estar desempregado…
É claro que o objectivo da doutrinação neoliberal é fazer baixar os custos do trabalho e levar à abdicação de quaisquer direitos laborais em troca de salários miseráveis.
Em Portugal não estaremos tão longe da situação do Bangladesh e de outras similares que existem no Oriente. Um exemplo do que afirmamos podemos encontrar no Público online de ontem onde se relata o calvário de Natália Pinto de 46 anos que tem um filho a cargo, trabalha 12 horas por dia, seis dias por semana mas tem de pedir ajuda para comer. Recebe “pouco mais de 500 euros” por mês. Se fizermos umas contas simples, chegaremos à conclusão que Natália ganha cerca de 1,60 euros à hora. Diriam os mentores ideológicos do Martim que mais vale ser semiescravo do que escravo completo…
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