Um trabalhador [da Galp] com salário
mínimo levaria 197 anos a ganhar o mesmo [que o administrador] - seriam 4 vidas
inteiras com uma longa carreira contributiva.
(…)
A pandemia serviu de pretexto para a
Petrogal despachar mais de uma centena de precários intermediados e em
outsourcing.
(…)
635 euros, o valor do salário mínimo, é
o que ganham 756 mil trabalhadores portugueses.
(…)
Na passada quarta-feira, no Parlamento,
foi chumbada a atribuição temporária de um subsídio de risco (no valor de 20%)
para os trabalhadores que, em plena crise e emergência, continuam a trabalhar
em funções vitais.
(…)
Faz sentido que uma empresa que despediu
centenas de pessoas seja apoiada pelo dinheiro de todos?
(…)
Faz sentido que, em pleno estado de
emergência – o mesmo que limitou direitos a cidadãos e trabalhadores – se
permita que empresas com lucro despeçam e distribuam dividendos?
O simples facto de [imigrantes
brasileiros no Luxemburgo] irem ao supermercado pode valer-lhes a deportação.
(…)
[Em Bruxelas] cada dia que
passa são muitas as pessoas que enfrentam dificuldades, que ficam sem emprego,
que ficam sem rendimentos.
Milhares de cidadãos com
as suas atividades inviabilizadas, estão a acentuar as desigualdades, a alargar
os caminhos para a pobreza, a aumentar o exército de mão de obra disponível que
alimenta a queda dos salários e a exploração.
(…)
No mundo do trabalho está
em marcha uma tremenda alteração das relações de forças que é preciso travar.
(…)
A proteção social é
importante, mas não há ajuda que substitua o salário digno adquirido pelo
trabalho.
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O Estado social - expressão da
solidariedade como valor coletivo institucionalizado que obriga a todos - não
sobrevive sem pagamento de impostos, coisa que os neoliberais rechaçam.
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Repugna ver grupos empresariais
publicitarem os seus atos solidários, quando têm as suas sedes em paraísos
fiscais para fugirem aos impostos e ampliam os seus lucros pagando mal a
trabalhadores e fornecedores.
(…)
[As “ajudas” da UE] escondem
sempre, nas letras pequeninas dos acordos, a cobrança a prazo e em duplicado do
que supostamente é oferecido.
(…)
Os bancos não são e jamais
serão instituições de solidariedade. Exijamos-lhes que cumpram as suas
obrigações e não criemos outras expectativas.
(…)
Um cidadão perde a sua
dignidade quando fica dependente da caridade alheia. O mesmo acontece a um
país.
Olhando para a forma como
o Governo tem respondido à situação dramática em que se encontra a comunidade
artística, é desastroso constatar que escolheu fazer o seu caminho pelo lado de
fora.
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O milhão de euros,
anunciado pela ministra da Cultura, como primeira linha de resposta à crise é,
para utilizar palavras brandas, manifestamente insuficiente.
(…)
Fomos, portanto,
confrontados com um novo paradigma criativo em que o limiar da sobrevivência é,
por estímulo governamental, decretado como a forma última de arte.
(…)
À custa da cultura nunca
se ter sentado à mesa do Orçamento do Estado, agora não há pão.
(…)
O caso pessoal de cada
artista passou a ser um caso colectivo que só pode ter uma solução colectiva.
Há sempre quem não desista
da tentação de sair a ganhar, mesmo na pior das crises.
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A Brisa já acionou
inclusive um mecanismo contratual para
receber uma indemnização do Estado [devido à quebra
do tráfico rodoviário]
(…)
Acima do esforço coletivo,
está a renda parasitária que há anos cobram ao erário público.
(…)
Entre 2011 e 2018, [as
PPP] custaram ao Estado 12 mil milhões de euros, segundo parecer do Tribunal de
Contas. Este valor cobriria o orçamento do SNS, por exemplo.
(…)
As PPP são um negócio
desastroso para o Estado e um rentável negócio para os privados, que
conseguem a isenção do risco e, simultaneamente, garantir os rendimentos
(…)
Quando ultrapassarmos esta
crise, estará também chegado o tempo para ultrapassar estes modelos de
financiamento ruinosos e parasitários.
Isabel
Pires, “Publico” (sem
link)
À escala planetária e
individual, o vírus
tornou-se central nas nossas vidas, anseios e
preocupações, e a aborrecida normalidade parece-nos agora um desejo exótico.
(…)
Quando os privados
encerram estabelecimentos de saúde ou deixam à porta quem não tem seguro ou
dinheiro, são os SNS que não viram as costas às dificuldades.
(…)
Quando o poder político
não agiu com a velocidade necessária, atrasando a adoção de medidas públicas de
afastamento social, correu-se atrás do prejuízo.
(…)
A saúde pública – uma área
acantonada no SNS, permanentemente vista como um custo, exangue de
profissionais e recursos – tem sido David contra Golias.
(…)
Dizia Marx que a história
se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa. É a esse triste
espetáculo que assistimos na Europa neste momento fundamental.
Pedro Filipe Soares, “Público” (sem link)
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