Já aqui disse, e repito: na cultura,
parece que foi tudo mal feito desde o início da pandemia, que expôs
dramaticamente o que já estava mal antes.
(…)
Até hoje, aliás, mesmo medidas que
deveriam ter existido desde o início, como a "linha de apoio social aos
profissionais das artes", anunciada há cerca de um mês para ser paga “em
julho e setembro”, continuam a ser desconhecidas e a não chegar às pessoas.
(…)
[É necessária] uma política cultural com
investimento público, que sustente os encargos que resultam de um melhor
enquadramento dos trabalhadores, seja no financiamento de obras, seja no apoio
às estruturas.
No jogo político que protagonizam para
os seus eleitorados, Costa e Rio querem pressionar-se e querem pressionar os
partidos da esquerda e da direita, respetivamente.
(…)
A verdade é que, desde 2019, a
correlação de forças no parlamento e a orientação dominante no PSD alentaram
quem quis um PS livre de negociações à esquerda.
(…)
António Costa – e toda a gente – sabe
que é mirífica a ideia de que o PS governe negociando á direita umas coisas e à
esquerda outras.
(…)
A estridência do PS no anúncio da
vontade de querer agora os acordos à esquerda que rejeitou há um ano vai de mão
dada com a estridência da qualificação do bloco central como um gambozino.
No momento em que AV
procura branquear o assassinato de Bruno Candé, recorrendo a mais um rol de
declarações inadmissíveis, insinuações abjectas e divulgação de posts falsos, Rui
Rio apela a uma eventual-fofura-futura do Chega
(…)
Ao admitir uma aliança com
AV, Rui Rio comete o seu maior pecado político desde que assumiu a liderança do
PSD.
(…)
Ao contrário do que diz,
uma eventual aliança não depende do CH, depende sempre do PSD.
(…)
O verdadeiro palco que é
dado a AV continua a vir desta Direita que não entende que só uma cerca
sanitária pode impedir, e já vai tarde, o crescimento de um populismo tão
abjecto.
Evidenciam-se hoje demasiadas negações coletivas
geradoras de medos.
(…)
O assassinato a
sangue-frio do ator Bruno Candé e os escabrosos comentários justificativos
desse ato hediondo mostram-nos racismo inculcado na sociedade portuguesa.
(…)
Cheira forte a um
"novo" normal duro e perigoso, carregado de desemprego, de exploração
e desigualdades, de pobreza, de profundos problemas sociais.
(…)
É difícil acreditar na
legalidade das transações do Novo Banco quando a principal figura do fundo
abutre que comprou as 13 mil casas, terrenos e outros bens imobiliários
envolvidos no negócio veio da Lone Star.
(…)
Como há muitos anos digo,
o roubo "legal" é, nas sociedades atuais, incomensuravelmente maior
que o roubo na plena acessão da palavra.
(…)
A 3 de fevereiro de 2017 a
Assembleia da República rejeitou, com votos contra do CDS, do PSD e do PS,
projetos de resolução do BE e do PCP que se opunham à venda do banco à Lone
Star e propunham a sua nacionalização.
Fiscalizar e escrutinar a
ação dos executivos faz parte integrante do trabalho das assembleias legislativas,
assim como faz parte integrante do trabalho dos governos, nomeadamente do
primeiro-ministro, prestar contas regularmente perante a Assembleia da
República.
(…)
Os subscritores do
presente apelo consideram que a passagem dos atuais debates quinzenais com o
primeiro-ministro a uma vez em cada dois meses, recentemente aprovada no Parlamento (24-7-2020), representa um recuo indesejável e incompreensível.
(…)
Com esta inflexão Portugal
passará a ter um dos parlamentos europeus onde menos se escrutina a ação do
Governo e do primeiro-ministro.
André Freire, Francisco
Louçã, Francisco Teixeira, Álvaro Beleza, Daniel Adrião, José Ribeiro e Castro,
Manuel Meirinho Martins e Pedro Bacelar de Vasconcelos, “Público” (sem link)
Face a esta tempestade de
ódio seria de esperar que o grosso das críticas à monitorização [do discurso do
ódio na internet] se prendesse com o facto de serem tardias ou insuficientes,
mas não é esse o caso.
(…)
É verdade que a origem do
ódio reside a montante em fenómenos sociais, económicos e políticos complexos,
mas as redes sociais tornaram-se o seu palco principal
(…)
Um ecossistema digital
saudável requer não só a monitorização do discurso de ódio, mas também a
regulação do mercado digital existente e a criação de alternativas digitais de
serviço público e cooperativo.
(…)
É que não foram apenas os
serviços que foram digitalizados, foi também toda a informação que nos define
enquanto pessoas e que está fora do controlo individual e colectivo.
Tiago Santos, “Público” (sem link)
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