sexta-feira, 20 de maio de 2016

A EUROPA PODE ESTAR A MUDAR


Começa felizmente a sentir-se na Europa alguma reacção ao “diktat austeritário da Alemanha”.
Se bem que a situação da Itália não possa comparar-se à de Portugal, a recente tomada de posição do Primeiro-Ministro transalpino, Matteo Renzi, referida no seguinte texto extraído de um artigo de opinião assinado por Domingos S. Ferreira no Público (17/5/2016), traz alguma esperança aos povos europeus no sentido de se libertarem do jugo a que foram submetidos por líderes políticos e por instituições não submetidas ao voto popular.  
Curiosamente, entre nós, têm sido pouco referidas as medidas levadas a cabo pelo governo italiano, cujo significado económico se começa a sentir no país mas cujo sentido político é deveras importante pela resistência demonstrada “ao dogmatismo alemão, à Comissão Europeia e ao FMI”.
Apesar de os diferentes povos europeus apoiarem uma União da Europa, todavia, a actual tornou-se naquilo que os europeus nunca sonharam e os pais fundadores nunca idealizaram, dado que não só os seus líderes políticos não são democraticamente eleitos (com excepção do PE), como também são obrigados a aceitar reverencialmente o diktat austeritário da Alemanha. Quem já se fartou do diktat alemão foi Matteo Renzi, que recentemente afirmou numa entrevista: “Depois de dois anos a ouvir, agora é a minha vez de falar”. Embora o Primeiro-Ministro italiano tenha passado despercebido, a verdade é que tem sido ele que, farto de recessão que martiriza o seu país há anos, tem demonstrado assertivamente maior resistência ao dogmatismo alemão, à Comissão Europeia e ao FMI. Ainda recentemente no Conselho Europeu Pier Carlo Padoan, Ministro das Finanças italiano, apresentou e defendeu vigorosamente um coerente e poderoso programa de estímulo fiscal para a UE na reunião com o FMI em Washington. Mais importante ainda, Padoan iniciou já um programa de estímulo económico no seu país. Deste modo, além de ter baixado os impostos, manteve os níveis de despesa pública, contrariando e desafiando o espartilho do Tratado Orçamental, exigido pela Alemanha e pela Comissão. Em resultado destas medidas, o clima de optimismo e confiança dos investidores e consumidores em Itália aumentou de tal forma que atingiu o nível mais elevado em 15 anos. Assim, de acordo com o FMI, a Itália é o único país do G-7 que mais crescerá em 2016. Acresce que o Ministro das Finanças italiano criou um imaginativo sistema público-privado para financiar os desesperados e descapitalizados bancos italianos sem esperar pela aprovação quer do BCE, quer da Comissão.
Vale a pena recordar que, por pressão alemã, tinha sido já bloqueada uma iniciativa de criação do “Banco Mau” para o qual seriam transferidos os activos tóxicos e o crédito mal parado dos bancos italianos. Apesar do ataque de nervos alemão, a verdade é que os mercados premiaram o desafio italiano aumentando o preço das acções do maior banco italiano, Unicredit, em 25%. Para quem não sabe, Padoan é o único economista do G-7 com larga experiência, dado que foi chefe economista na OCDE. Neste sentido, afirma Anatole Kalestky, “ninguém compreende tão bem como ele os mecanismos da política monetária e fiscal”. Também o italiano Mario Draghi, Presidente do BCE, tem-se mostrado o mais proactivo e criativo líder europeu, tendo já por várias vezes evitado o colapso da moeda única, nomeadamente através do gigantesco programa quantitive easing, contrariando, assim, as regras anti-monetaristas e de mutualização das dívidas soberanas do Tratado de Maastricht, apesar da feroz oposição do Bundesbank. Acresce que Mario Draghi foi o primeiro Presidente de um Banco Central a avançar com a ideia do “helicopter money” – distribuição directa de dinheiro pelo BCE aos consumidores europeus para estimular a procura agregada – levando à fúria dos alemães que o invectivaram com todos os impropérios xenófobos.
Deste modo “o renascimento” italiano poderá constituir uma nova liderança alternativa ao diktat alemão e uma oportunidade para a revitalização da Europa e que Portugal deverá, inequivocamente, apoiar e acompanhar.

Sem comentários:

Enviar um comentário