terça-feira, 17 de maio de 2016

AUSTERIDADE, SINÓNIMO DE MAIOR POBREZA E DESIGUALDADE


Espezinhando as lições da história recente e a investigação científica levada a cabo desde a Grande Depressão de 1929, e, contra todas as evidências, os “fossilizados” líderes da União Europeia (UE), cuja ilegitimidade democrática é óbvia por não terem sido sufragados pelo voto popular, tomam as principais medidas que afectam as vidas dos cidadãos europeus. Como se sabe, o único órgão eleito na UE, o Parlamento Europeu, pouco peso tem nas decisões que toma, sendo as mais importantes determinadas por gente que não sai dos seus gabinetes e está lá para defender os interesses dos poderosos ainda que contra a vontade dos diversos povos europeus livremente expressa através do voto. É o que se está a passar com a imposição das famigeradas medidas de austeridade que, desde sempre, não levaram à recuperação da crise económica, antes pelo contrário, conduziram em todos os casos ao aumento da pobreza e da desigualdade nos países onde foram implementadas.
É esta a conclusão a que se chega através da leitura do seguinte excerto de um artigo de opinião de Domingos S. Ferreira (*) que transcrevemos do Público de hoje.  
“Uma família pode decidir gastar menos e tentar ganhar mais. Mas, na economia, como um todo, gastar e ganhar estão correlacionados, dado que o que eu gasto é o que tu ganhas e o que tu gastas é o que eu ganho. Se todas as famílias decidirem cortar nos gastos ao mesmo tempo não há receita, a economia pára e o desemprego aumenta”. Pois é! Assim, afirmava Keynes nas sessões radiofónicas na BBC. E acrescentava: “Minhas senhoras, vão às compras! Pois quanto mais gastam, mais postos de trabalhos são criados”. Embora os falcões da ortodoxia económica continuem teimosamente a insistir nas medidas de austeridade, estas nunca resultarão no equilíbrio orçamental nem na atracção do investimento. A verdade é que o resultado deste tipo de medidas revelou-se na maior espiral recessiva mundial desde 1930. A verdade é que a investigação científica desenvolvida desde a Grande Depressão de 1929 em dezenas de países demonstrou, inequivocamente, que nenhum país, em nenhum lado do mundo, recuperou da crise económica através das medidas de austeridade.
A verdade incontestável é que a austeridade conduziu sempre a maior pobreza, maior desigualdade, falência do sistema financeiro e destruição da economia. Também neste sentido, o Tratado Orçamental, imposto leoninamente pela inepta Comissão Barroso, pelo bipolar FMI, pelo BCE do desastrado Trichet e pelo dogmatismo fossilizado de Angela Merkel e Wolfgang Schäuble, constitui o maior disparate até hoje produzido pelo Eurogrupo, dado que tenta “vestir o mesmo fato” a todas as economias sem ter em conta as diferentes idiossincrasias estruturais, económicas e políticas dos Estados-membros. Deste modo, incompetentes e cinzentos burocratas, que ninguém elegeu e nenhum povo escolheu, impõem leoninamente as suas decisões na obscuridade dos seus gabinetes, não só contra vontade dos líderes políticos democraticamente eleitos, como também desfavorecendo os países mais pobres em benefício dos países e corporações mais poderosas, como ficou patente quando fecharam os olhos à fuga aos impostos das grandes corporações em países como a Holanda ou o Luxemburgo ou, agora, no caso Banif. Tudo isto com o apoio de gente muito ilustre, muito séria e sábia, com homenagens e comendas, com direito a infinito tempo de antena em prime time onde expõem a sua ignorância como incontestadas e sublimes verdades científicas. Contudo, grande parte desta virtuosa gente arrasta consigo cumplicidades em políticas desastradas, em escândalos de fraude económica, fuga aos impostos, contas escondidas em off-shores (nos quais as autoridades não actuam firmemente), etc..
(*) Professor Associado, Director INNOVARE - Research Center in Management, Economics and Finance, UAL

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