A
quantidade de energia que o ser humano actualmente necessita é cada vez maior e,
sabe-se agora, que é possível obtê-la de forma limpa, sem qualquer perigo para
o ambiente e para os seres vivos. Também se sabe que as fontes de energia limpa
são muito diversificadas e praticamente inesgotáveis, ao contrário das que
vimos utilizando desde há séculos até ao presente. O carvão, os hidrocarbonetos
e o nuclear são fontes de energia que, para além de esgotáveis a curto/médio
prazo, contêm em si perigos imensos, inclusive para a sobrevivência dos seres
vivos á superfície da Terra.
Os
principais responsáveis políticos a nível mundial sabem que assim é, mas muitos
interesse se opõem a que se tomem medidas no sentido de se levar a cabo uma
transição rápida para fontes de energia renováveis e limpas. É a luta das
populações através de protestos e muitas acções de rua, a que se juntam
organizações ambientais e forças políticas não conluiadas com poderosas empresas
e lobbies internacionais que poderão alterar o actual estado de coisas.
Bem
perto de nós, temos um exemplo do que acima se referiu, com o que se passa
relativamente à central nuclear de Almaraz, instalada numa das margens do rio Tejo,
junto à fronteira portuguesa, cujo encerramento é imprescindível em defesa de
vidas e haveres, tanto de espanhóis como de portugueses.
No
seguinte artigo de opinião que transcrevemos do Expresso de ontem, os
coordenadores do Movimento Ibérico Antinuclear em Portugal e Espanha,
respectivamente António Eloy e Francisco Castejón, defendem o encerramento
definitivo da central nuclear de Almaraz.
As centrais nucleares são um obstáculo a uma transição
para um sistema elétrico limpo. Demoram muito a entrar em base e não se regulam
com facilidade. Já houve ocasiões em que foi necessário “tirar” de produção
3000 MW de energia eólica, o equivalente a três centrais nucleares, em
situações de baixo consumo e muita produção eólica, pela impossibilidade de
apagar as nucleares e assim se deixou de produzir energia limpa durante muitas
horas perdendo-se milhões de euros.
Além de ser um obstáculo para as renováveis as
centrais nucleares geram resíduos para centenas de milhares de anos e são um
risco inaceitável, ademais de não terem uma forma de gestão segura e
satisfatória.
O MIA propõe que as centrais nucleares vão fechando
quando acabem as atuais licenças de exploração, dessa forma podemos ir tomando
as decisões para no quadro da supressão dessas fontes de energia desenvolvermos
as medidas necessárias para que não haja um aumento das emissões de CO2, para a
afirmação das renováveis e para medidas de poupança e eficiência na gestão da
procura.
Com esse calendário Almaraz será a primeira a fechar.
Os dois reatores com um total de quase 2100 MW de potência elétrica são
propriedade da Iberdrola ( 53%) da Endesa ( 36%) e Gas Natural Fenosa (11%) e
têm autorização até 2020.
Almaraz é refrigerada pelo rio Tejo, comum a Espanha e
Portugal, e um hipotético acidente com fuga radioativa poderia contaminá-lo,
afetando ambos países. Já a saúde do rio se vê afetada pela central, dada a
elevação da temperatura e os despejos quotidianos, controlados de trítio, um
isótopo radioativo com 13 anos de vida média.
O projeto de Armazém Temporal Individualizado (ATI)
está concebido para prolongar o funcionamento da central para lá de 2020, dado
que as suas piscinas de combustível utilizado têm capacidade para armazenar
resíduos além de 2020. A luta contra o cemitério de Almaraz é, portanto, a luta
pelo fecho de Almaraz em 2020. É necessário fechar Almaraz para reduzir os
riscos. Não sabemos como se comportam a longo prazo os sistemas de segurança da
central. Os sistemas foram desenhados para 40 anos de funcionamento, o alargamento
desse prazo é uma experiência tecnológica que pode, no caso de alguma falha,
provocar uma catástrofe ambiental de magnitude incalculável.
O processo de autorização do ATI realizado pelas
autoridades espanholas contrariando a legalidade internacional (pelo menos três
diretivas europeias!) ao não ter em conta Portugal, apesar de solicitações do
Governo português, contrariou a legalidade internacional (e agora menospreza a
autoridade ambiental portuguesa ao colocar em análise o... que já foi analisado
e aprovado em Espanha, os mesmos documentos exatamente!)
O pacto assinado pelos Governos português e espanhol e
que levou à retirada da queixa em Bruxelas é uma cedência total do Governo
português sem qualquer contrapartida ambiental clara e banalizando as infrações.
Pelo ambiente, pela economia, pela cidadania e pela
suficiência, temos que fechar Almaraz.
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