Na
passada semana foi tema de acesa discussão o cancelamento, pela direcção da
FCSH [Faculdade de Ciências Sociais e Humanas] da Universidade Nova de Lisboa,
de uma conferência com o historiador Jaime Nogueira Pinto, organizada por um grupo
de estudantes nacionalistas. As mais desencontradas e confusas notícias sobre a
realidade dos factos, levaram, inclusive, a acusações de censura relativamente
à dita conferência. De tal maneira a verdade foi manipulada, por acção ou
omissão, que as mais insuspeitas personalidades foram levadas ao engano.
Com
o passar do tempo, a realidade dos factos veio ao de cima, depois de algum
aproveitamento político de forças extremistas a que, inacreditavelmente, se
associaram PSD e CDS.
Aproveitámos
o seguinte excerto de um artigo de opinião assinado por Alexandra Lucas Coelho
no Público de hoje, onde a jornalista evidencia a cronologia dos factos
relacionados com o caso em apreço.
— A conferência “Populismo ou
Democracia? O Brexit, Trump e Le Pen em debate” é agendada para 7 de Março por
estudantes da FCSH ligados ao movimento Nova Portugalidade, que para isso
reservam uma sala da faculdade.
— A 2 de Março, uma Reunião Geral de
Alunos (RGA) aprova uma moção para cancelar a reserva por esse movimento estar
“associado a argumentos colonialistas, racistas, xenófobos”. Independentemente
do número de votos (24 a favor, 4 contra, 3 abstenções), a associação de
estudantes considera-se vinculada ao resultado.
— Dia 7, a direcção da faculdade anuncia
que “decidiu cancelar o evento”, depois de “apreciada a ausência das
indispensáveis condições de normalidade em que deveria ter lugar, com a
dignidade que o convidado e o tema em discussão mereciam”. Sublinha que “não
atribui responsabilidade à Associação de Estudantes, a qual nunca colocou em
causa a conferência nem o conferencista”. Garante que Nogueira Pinto será
convidado em breve a falar, e foi contactado. Mas o fantasma da censura já se
agita, das redes sociais a Marcelo, que pede esclarecimentos, considerando o
cancelamento absurdo. Ouvido, Nogueira Pinto designa os estudantes da Nova
Portugalidade por “patriotas” e os da RGA por “maoístas ou do Bloco de
Esquerda”.
— A 8 de Março, a associação de
estudantes da FCSH anuncia ter sido “invadida por quatro dezenas de indivíduos
afectos à extrema-direita, que se identificaram como tal” e “exigiram conhecer
individualmente membros” da associação. “Fotos de dirigentes associativos foram
publicadas em redes sociais da extrema-direita, sendo que 40 pessoas prometeram
voltar em maior número.” Ou seja, estudantes passam a estar sob ameaça directa.
Entretanto, o Partido Nacional Renovador (PNR), de extrema-direita, convoca uma
manifestação na FCSH para dia 21. Ainda nesse dia, a reitoria da UNL nega que a
liberdade de expressão esteja em causa e reitera que a conferência “foi adiada”
para que o tema seja discutido “de forma alargada e objetiva num clima sereno”.
— No dia 11 o director da FCSH,
Francisco Caramelo, esclarece: “[Os membros da Nova Portugalidade] exigiram-nos
que houvesse polícia, antes e durante a conferência. Respondemos que trazer a
polícia para dentro da faculdade não faz parte da nossa cultura.” Eles
disseram: “Então, podemos levar 10 pessoas que estarão dentro da conferência
para garantir a segurança”, lembra Caramelo. “Foi face a isso que a direcção da
faculdade considerou que havia um grande potencial de risco. E é impensável que
venha alguém exterior à faculdade garantir a nossa segurança.” A Nova
Portugalidade contrapõe: contrataria “uma ou duas pessoas”, e “não tem, teve,
ou terá ‘milícias’”, tal como “não conhece” quem invadiu a associação.
Sem comentários:
Enviar um comentário