Quando
Bush (filho) foi eleito para a presidência dos Estados Unidos da América (EUA),
uma onda de anedotas invadiu o mundo para sublinhar que estávamos perante uma
personalidade iminentemente ignorante e que pior não poderia vir a suceder na
maior potência à face da Terra. Mas a verdade é que, apesar de tudo, Bush foi
sempre previsível relativamente às suas decisões. Com a eleição de Obama,
muitos terão pensado que o pior já tinha passado relativamente ao inquilino da
Casa Branca e que se teria entrado noutro rumo, bem mais de acordo com as
responsabilidades de um país como os EUA.
Ainda
que se coloque no ar a possibilidade de ter havido fraude na eleição de Trump,
a verdade é que ele se tornou o homem mais poderoso do mundo mas, ao mesmo
tempo, completamente impreparado para as funções que desempenha e de uma total
imprevisibilidade quanto às decisões que toma.
Por
outro lado, na Coreia do Norte, um regime ditatorial, o seu líder também tem
uma personalidade imprevisível, com comportamentos “primários
como as crianças”, capaz de desencadear um conflito de proporções inimagináveis
à escala mundial.
Como
muito bem diz Domingos Lopes no artigo de opinião que assina no Público de
ontem (e que reproduzimos a seguir) “é estranho que dois sistemas tão
antagónicos gerem dois líderes cujas emoções e sentimentos os façam parecer
gémeos” e cuja acção “amedronta a Humanidade inteira”.
Vivemos num mundo de conhecimentos cada
vez mais amplos e, ao mesmo tempo, cheio de riscos e perigos devido à loucura
humana de domínio. Há dias, 05/11/2017, neste jornal, António Damásio alertava
para a necessidade imperiosa de alargar e aprofundar a educação e a cultura
como meio de evitar que os homens se matem uns aos outros e se quebre de vez o
ciclo de guerras que desde o homo sapiens marca a humanidade.
É um facto que sobretudo desde a eleição
de Trump, a Península Coreana vive um período que pode fazer explodir um
conflito e lançar o mundo numa guerra nuclear. Há dias, a embaixadora da Coreia
do Sul para a Diplomacia Pública, Enna Park, dizia ao jornalista Leonídio
Ferreira, do DN de 10/11/2017: “Temos de manter a nossa capacidade de
dissuasão, o que significa ter uma superioridade militar”... As palavras valem
o que valem, e aqui estão elas com toda a brutalidade — a Coreia do Sul quer
ter superioridade militar sobre a Coreia do Norte, o que se adivinhará contando
com a força militar e nuclear dos EUA.
É de imaginar que o Norte possa querer
dissuadir a irmã do Sul obtendo ou tentando obter uma superioridade militar.
Neste exato terreno de louca corrida às armas os únicos que podem eventualmente
ganhar são os fabricantes de armas de ambos os lados.
Os militares no Norte porque ser-lhes-á
mais fácil manter o país sob o manto da repressão.
“Velho decrépito”, atirou Kim Jong-un a
Trump, o que fez a cabeça bem ajuizada do íncola da Casa Branca vir a terreno
dizer que nunca chamaria ao dono de Pyongyang “baixo e gordo”.
Não há muito tempo que o da Coreia
afirmava que os EUA enfrentariam um dilúvio de fogo nuclear... o dos EUA
contra-atacou, ameaçando o outro com um mar de fogo e fúria.
É estranho, sobretudo nos EUA, que se
assista a este desmando, sem que estas grosserias diplomáticas não criem uma
onda de indignação que faça com que Donald Trump se remeta ao mínimo na sua
passagem pela Casa Branca.
Ao que se sabe, Kim Jong-un poderá dizer
o que quiser, porque na terra dos Presidentes de República eleitos por
legitimidade dinástica, uma espécie de reino republicano em que o primogénito
sucede não ao rei, mas ao grande líder ou ao querido dirigente, ninguém abrirá
a boca a não ser para aplaudir o que o dirigente máximo diga.
Se o homem à frente do país mais
poderoso do mundo não acredita nas alterações climáticas e tuíta a ameaçar com
um mar de fúria e fogo a Coreia do Norte, dirigida por um fulano “baixo e
gordo” a continuar a sua senda para o desconhecido e imprevisível, que vai
suceder ao mundo? Se o querido dirigente, grande líder, continuar a ter o dedo
no gatilho ameaçando os EUA com um dilúvio de fogo nuclear, o que pode suceder
ao mundo? Se a Coreia do Sul continuar a procurar a superioridade militar para
dissuadir o Norte, que vai suceder ao mundo?
É estranho que dois sistemas tão
antagónicos gerem dois líderes cujas emoções e sentimentos os façam parecer
gémeos. A diferença no modo como se exprimem quanto ao conflito é quase nula.
Primários como as crianças e desbocados como todos os que vivem centrados em si
próprios. O mal é o poder que têm. Um pesadelo que amedronta a Humanidade
inteira.
Não há mais ninguém no mundo que una
esforços para encontrar uma saída para a crise coreana e impeça a
imprevisibilidade e o acaso?
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