(…)
Qualquer
coisa que saia da Presidência com o nome do filho do Presidente associado
ganha, onde chegue, o estatuto de cunha.
(…)
Como o
próprio Presidente sublinhou, quando exigiu a demissão de João Galamba, há sete
meses, os políticos são responsáveis pelos atos daqueles que escolheram.
(…)
Marcelo
deixou a coisa arrastar-se por um mês, negou contactos do filho com ele que
afinal existiam e até ameaçou pôr em tribunal quem o associasse ao caso.
(…)
Parece
evidente que há responsabilidades políticas abaixo do Presidente, ou a cunha
expressa ou implícita, depois da recusa do hospital, não funcionaria.
(…)
Mas a
gravidade primeira será sempre o envolvimento do Chefe de Estado.
(…)
Este
caso não tem a relevância política das ameaças irresponsáveis e inconsequentes
de dissolução, quando o Palácio de Belém se transformou num dos principais
focos de instabilidade política.
(…)
Mesmo
que as motivações tenham sido as melhores, a ideia de que a proximidade a um
decisor político pode ser a fronteira entre a vida e a morte, no acesso ao SNS.
(…)
É por
isso que me atrevo a dizer que este caso, se não é mortal para Marcelo, andará
lá perto.
(…)
A
autoridade política de Marcelo já tinha sido desgastada pela guerrilha que
manteve com Costa. A ética sai irremediavelmente abalada.
(…)
Estamos
a atravessar uma tempestade perfeita. O Governo caiu por um processo judicial
que parece ser um instável castelo de cartas.
(…)
O
maior partido da oposição foi apanhado de surpresa, com um líder fraco de que
se queria ver livre.
(…)
E,
depois de sucessivos espetáculos mediáticos, a Justiça está desacreditada.
(…)
Só
faltava “o último fusível de segurança”, como o Presidente se referiu a si
mesmo no discurso de maio.
(…)
Como
sabemos, só há um sector político que ganha com tudo isto. (…) Porque
o estilo dá audiências, André Ventura tem, nos últimos meses, um lugar quase
cativo na CNN Portugal.
(…)
O país
sabe que não se pode dar ao luxo de juntar o Presidente a todas as crises
institucionais que está a atravessar.
(…)
[Com] a
autoridade ética desgastada por este episódio, o “último fusível” pode ter
deixado de funcionar.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Em
pleno Parque Natural da Ria Formosa, numa área de tal modo rica que nela se
instalaram valiosas pradarias marinhas, prepara-se a intervenção de obras
pesadas tendo em vista transformar aquela área da Ria num porto para
embarcações de recreio.
(…)
Por
que motivo em vez de adaptar esse degradado e pouco utilizado porto comercial
de Faro, se pretende destruir, mesmo ao lado, um valioso segmento da Ria
Formosa para uma marina de recreio afetando um património ambiental de grande
valor económico?
(…)
É
importante sublinhar que aquela zona da Ria Formosa, que inclui parte de um sapal,
presta inúmeros serviços a vários níveis.
(…)
Funciona
como uma autêntica maternidade, berçário e infantário de espécies porque os
peixes, crustáceos e moluscos põem ovos, nascem e crescem ali mais rapidamente
conseguindo o dobro da taxa de sobrevivência.
(…)
Acresce
ainda que esta zona específica é essencial para ajudar a purificar a água da
Ria, pela sua capacidade de filtrar os afluentes urbanos e os provenientes da
agricultura.
(…)
Trata-se,
além do mais, de habitats classificados como prioritários, alguns em risco de
extinção com diretivas explícitas para serem restaurados.
(…)
De
facto, uma obra brutal como esta que se pretende agora para construir o porto
de recreio pode comprometer a própria integridade ecológica da Ria.
(…)
O
Parque Natural da Ria Formosa não é um espaço devoluto à espera das fantasias
turísticas.
(…)
É uma
área ambientalmente preciosa no país e na UE, protegida por leis nacionais e
comunitárias.
Luísa Schmidt, “Expresso” (sem link)
A posição de classe da nossa família e o lugar onde nascemos
determinam muito o nosso percurso de vida, no geral e no trabalho.
(…)
O elevador [social proporcionado pela educação e
qualificação] apresenta-se bloqueado.
(…)
Estamos a desaproveitar o investimento que as famílias e o
Estado fizeram na escolarização.
(…)
Um jovem vai a uma entrevista para o seu primeiro emprego
totalmente isolado. Entra no leilão do seu salário, sem o mínimo de capacidade
de defesa.
(…)
As empresas, quando recrutam jovens a quem se exige alguma
qualificação, adotam esta malandrice de lhes perguntar quanto pensam ter de
salário.
(…)
Sabem muito bem que eles estão num estado de necessidade
condicionador e, também sabem, que estas práticas cavam desigualdades.
(…)
As políticas de emprego estão afuniladas na responsabilização
individual, quando a “empregabilidade” está muito dependente das políticas
públicas e de compromissos coletivos.
(…)
Um dos grandes problemas da sociedade é melhorar rapidamente
as condições com que os jovens entram no mercado de trabalho.
Numa
altura em que o mundo é assolado por crises, o 75.º aniversário da Declaração
Universal dos Direitos Humanos (DUDH) deve suscitar mais do que reflexões
superficiais.
(…)
O colapso climático está aí. Há conflitos a proliferar.
(…)
A pobreza e a fome estão a ganhar destaque, enquanto a
tecnologia se posiciona para transformar as nossas sociedades.
(…)
Existe
uma percepção generalizada de que os direitos humanos são aplicados de forma
selectiva – dentro de cada país e entre países.
(…)
A
nível nacional, as mulheres, as minorias e as pessoas com baixos rendimentos
têm menos probabilidades de usufruir dos seus direitos, com especial destaque
para o acesso à justiça e o acesso aos cuidados de saúde.
(…)
A nível internacional, há uma gritante duplicidade de
critérios.
(…)
Ao
mesmo tempo, é retirada a prioridade a determinados direitos colectivos em todo
o mundo, como o direito a um meio ambiente salutar.
(…)
O
grito de alerta dos direitos humanos foi diluído por acusações de captura pelas
elites e de apropriação pelos grupos marginais.
(…)
Os antigos defensores dos direitos parecem diminuídos ou
comprometidos.
(…)
O próprio sistema multilateral que ancora os direitos está em
crise
(…)
Diversos
agentes, como os advogados de direitos humanos, ONG e organizações
internacionais, continuam a dar esperança, apoio e reparação a quem procura
justiça e protecção.
(…)
É crucial que evitemos a estagnação e o desânimo, que apenas
favorecem os abusadores e os autoritários.
(…)
Temos de nos tornar mais criativas e criativos na forma como
apoiamos as pessoas que defendem os direitos.
(…)
Temos de investir nos líderes e nos instrumentos de amanhã,
em vez de tentarmos recuperar o atraso com os autoritários.
Natalie Samarasinghe, “Público” (sem link)
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