Muitos dos portugueses mais velhos recordam com facilidade que nos tempos do PREC a propaganda anticomunista mais extremista difundia em certas regiões do país que os comunistas matavam os velhos com um tiro atrás da orelha.
Esses tempos já ficaram para trás há muitos anos e actualmente vivemos numa democracia aparentemente consolidada e dominada, sem sombra de dúvida, pela ideologia neoliberal.
Como se pode ler na crónica que Joana Amaral Dias assina este sábado no CM, ainda há pouco tempo, Manuela Ferreira Leite, uma “genuína social-democrata”, como faz questão de se auto-intitular defendia “que pessoas com mais de 70 anos, que precisam de fazer hemodiálise, só deveriam ter direito ao tratamento se pagassem”. Também o ministro da Saúde afirmou, entretanto, que o número de transplantes deveria diminuir, sem esquecermos os cortes que, a toda a hora vêm sendo efectuados nas comparticipações de medicamentos para doenças crónicas. Assim, não é de admirar a tomada de posição do presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) que defende “que doentes com dois meses de vida não justificam a terapêutica” como se constituissem apenas uma inútil fonte de desperdício. É claro que todas estas afirmações se radicam na mais genuína ideologia neoliberal, em que o ser humano, depois de deixar de produzir e dar lucro se transforma num peso para a sociedade, em especial se for pobre e dependente de apoio do Estado. Mais ainda, se a juntar a esta situação for portador de doença incurável ou idoso. Para um neoliberal fanático, por cada reformado que morre é menos uma pensão que o Estado tem de pagar…
Josef Mengele, oficial médico nazi que ficou famoso pelo desprezo a que votava a vida humana nos campos de concentração, subscreveria sem problemas esta forma de eliminação de seres humanos considerados supérfluos na sociedade.
Finalmente há que referir a posição do fundador do SNS, António Arnault, que criticou o parecer do CNECV sobre cuidados de saúde, considerando o racionamento defendido “uma aberração ética e um absurdo médico”. “O Estado não tem autorização moral para cortar naquilo que é essencial à vida e à dignidade humana” afirmou ainda Arnault à Lusa. Na sua opinião “fazer esse racionamento” como sugere a CNECV, “é um contra-senso médico que implica sempre uma escolha daqueles que têm ou não têm direito”.
Afinal, como bem sabemos, os comunistas não mataram quaisquer velhos com um tiro atrás da orelha mas são os “democratas” (com aspas, obviamente) neoliberais que agora pretendem eliminá-los.
Sem comentários:
Enviar um comentário