Por estes dias,
Matos Fernandes, Ministro do Ambiente, veio declarar “o óbito dos carros a
gasóleo”, tendo tal declaração soltado uma série de reacções ligadas ao
comércio dos combustíveis e à indústria automóvel. Nada que não seja espectável
numa situação destas em que muitos interesses são colocados em jogo.
O fim do gasóleo já
se anuncia há algum tempo e tem como causa questões ambientais. De qualquer
maneira, no caso em consideração, o que está em causa é uma contradição entre
este anuncio e a concessão de autorizações do Ministro do Ambiente para
prospecção de hidrocarbonetos. “É que enquanto prega a urgência da descarbonização
e o combate aos combustíveis fósseis, concede nas decisões públicas sobre os
furos para prospeção de hidrocarbonetos em Portugal, nunca tendo beliscado os
interesses das empresas petrolíferas” afirma Pedro Filipe Soares no
interessante artigo de opinião que assina no “Público” de hoje.
O ministro do
Ambiente, Matos Fernandes, declarou o óbito dos carros a gasóleo.
Segundo ele, numa mão cheia de anos o diesel passará a ser conjugado no
pretérito perfeito e os carros a gasóleo perderão o seu valor comercial. A
declaração desencadeou
uma vertigem de reações, acirrando em particular o setor dos
hidrocarbonetos ou da indústria automóvel.
O declínio do gasóleo é um processo conhecido e previsível. Há 11
cidades europeias que já anunciaram a intenção de proibir ou restringir
fortemente os carros a gasóleo nos centros urbanos. Atenas, Madrid, Paris são
alguns dos exemplos que definiram a entrada em vigor dessas medidas em 2025.
Tem razão o ministro quando diz que “não podemos voltar as costas ao futuro”. A
indignação corporativa seria expectável, mas é apenas mais uma tentativa de
evitar o normal percurso da história.
O alerta do
ministro é para o óbvio e pode ser criticado pelo determinismo da afirmação ou
por vestir a pele de avaliador de automóveis, mas não por ser desfasado das
ações necessárias para combater as alterações climáticas e limitar os gases com
efeito de estufa. Nas críticas ao ministro quase parecia ver as palavras e o
pensamento de Trump que, entre a sua arrogância e a sua ignorância, pedia o
regresso do aquecimento global para combater as históricas baixas temperaturas
que assolam os EUA. Os 40 graus negativos nos EUA comparam com os 40 graus
positivos na Austrália e mostram como o clima está a ficar
desregulado e o nosso planeta a viver situações extremas.
Onde falha a argumentação do ministro é
que enquanto prega a urgência da descarbonização e o combate aos combustíveis
fósseis, concede nas decisões públicas sobre os furos para prospeção de
hidrocarbonetos em Portugal, nunca tendo beliscado os interesses das empresas
petrolíferas. Bem prega Matos Fernandes, mas se é para levar a sério a luta
contra os derivados do petróleo não pode haver dois pesos e duas medidas.
Da mesma forma que a escolha não é
apenas relativa à transição do transporte individual a gasóleo (ou a gasolina)
para o transporte individual elétrico. O caminho devia ser para um modelo de
mobilidade que garanta uma maior eficiência energética e isso só se alcança com
alterações de fundo nos transportes públicos.
A política de mobilidade não se pode
fazer apenas com incentivos fiscais para a compra de carros elétricos, ou com a
demissão do Estado do seu papel. Fazer da política fiscal o pilar da transição
energética é desistir de um investimento público reprodutor de riqueza, criador
de empregos e estrutural na política ambiental. Mais um ponto onde o Governo
não tem feito o que lhe competia, neste caso com responsabilidade de um outro
ministro, Pedro Marques. Mais um ministro refém de Centeno? As metas de défice
para apresentar em Bruxelas não estarão inocentes neste caso.
O investimento na ferrovia está abaixo do que o Governo
prometeu. Das promessas e anúncios feitos com regularidade desde que
se percebeu a corrida em curso para as eleições europeias, temos muitas
intenções mas poucas conclusões. Planos ferroviários há muitos, como a nossa
história recente comprova. O problema é que teimam em não sair do papel. Nesse
particular, o Governo atual não tem nenhuma originalidade, apenas tem seguido a
cartilha dos anteriores.
O candidato Pedro Marques tem percorrido
o país com afã e anunciado investimentos, mas o ministro Pedro Marques tem
falhado na execução do plano Ferrovia 2020, com claros prejuízos para o país e
para a transição energética de que necessitamos. O exemplo da falta de
investimento na CP, com os atrasos, supressões e restrições conhecidas, está
longe de ser exemplo único como se comprova pelos dados agora tornados
públicosPedro Marques foi apresentado ao país como o mago dos fundos
comunitários, que conseguiria fazer ressuscitar o investimento público. Sendo
certo que não herdou do governo anterior a vontade privatizadora, muito por
responsabilidade dos acordos à esquerda, é inequívoco que não cumpriu os
objetivos de investimento público e de recuperação da ferrovia. O ambiente
continua à espera.
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