Tem todo o cabimento que seja divulgado um
texto (*) como o seguinte, neste dia que se convencionou chamar “dos namorados”,
sem qualquer outra finalidade que não seja obrigar jovens e menos jovens a
gastar dinheiro em inutilidades, apenas por gastar.
Faz, pois, todo o sentido falar-se em
violência doméstica e manter este tema permanentemente actual enquanto houver
razões para tal, o que significa enquanto se souber que uma única mulher é
vítima de qualquer espécie de violência por parte de marido/companheiro/
namorado ou mesmo outro qualquer familiar. É inconcebível que, em pleno século XXI
e em plena Europa ocidental, o problema da violência doméstica ainda não esteja,
senão resolvido, mas, no mínimo, em níveis residuais.
É precisamente um enorme sofrimento que é infligido às
mães nos tribunais de família quando se tentam proteger a si e aos seus filhos
da violência a que tentaram escapar. Não, a violência não termina com o
divórcio. Ao agressor já conhecido juntam-se novas personagens.
Mães que ouvem um juiz justificar o injustificável,
quando perante as fotografias da criança onde claramente se distinguem marcas
de fivela entre os hematomas diz que as marcas são dele jogar à bola.
Mães que ouvem um juiz dizer que se têm medo do pai
dos filhos (como não ter medo de quem agrediu durante tanto tempo e de tantas
formas?) é porque são péssimas mães.
Mães que ouvem um juiz dizer-lhes que “A melhor coisa
que pode acontecer às suas filhas é você morrer.”
Mães que ouvem um juiz dizer-lhes que “Ou aceita a guarda
partilhada ou fica sem o seu filho. E seria bom retirar a queixa que fez...”.
Ficou sem o filho sim, tal como o filho acabou sem mãe. Foi assassinada pelo
pai do filho algum tempo depois.
Mães que após perderem a sua filha assassinada em
contexto de violência doméstica ouvem técnicas da ECJ dizer-lhe “Você tem que
se conformar com a perda da sua filha. Não é a primeira que morre. O seu neto
vai ter que conviver com a família do pai quer queira ou não.” O pai que está
preso por ter morto a mãe da criança.
Mães que sempre que as crianças não vão para casa do
pai por terem medo, são acusadas de alienação parental!
Mães multadas e ameaçadas de multa. Crianças ameaçadas
diretamente “Senão vais para o teu pai vou começar a multar a tua mãe”.
Crianças coagidas: “O vosso pai bateu na vossa mãe porque vocês não querem
estar com ele.”
Mães ameaçadas com a institucionalização dos seus
filhos ou com a entrega da guarda ao agressor caso não obriguem as crianças a
irem com o seu agressor ou não assinem um qualquer acordo que os desprotege a
todos.
Mães que, apesar das inúmeras tentativas de explicar
que a sua filha é vítima de violência e não poderá continuar em residência
alternada com o agressor, são esmagadas e morrem em parte também elas pelo
assassinato da sua bebé.
A justiça tortura as mães que têm a ousadia de fugir
da violência e dizer basta! A justiça tortura as crianças que se recusam a
estar com quem as agrediu. E sim, mesmo que só tenham presenciado as agressões
à mãe as crianças são vítimas de violência!
Quando deixaremos de tratar as crianças como meras
testemunhas e as protegeremos ao atribuir-lhe o estatuto do que realmente são –
Vítimas!
Quando perceberemos que esta tortura dá poder aos
agressores e é mortal para as vítimas?
Quando deixaremos as mulheres vítimas de violência
doméstica separarem-se efetivamente dos seus agressores?
(*) Paula Sequeira,
Presidente da Associação Dignidade
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