A desigualdade da distribuição da riqueza é
um flagelo a nível global ainda que a níveis diferentes de país para país. Esta
situação traduz-se directamente nos graus de bem-estar de largas camadas da
população e é fonte de intermináveis e sangrentos conflitos à escala da
humanidade, com milhões de vítimas inocentes, em particular, entre os estratos
mais pobres.
A autora do artigo de opinião seguinte, que
recolhemos do “Público” de hoje, Catarina Albuquerque (*), começa por referir
uma conhecida e chocante estatística segundo a qual “o 1% mais rico da população
mundial detém mais de 50% da riqueza do planeta”. A ninguém no seu verdadeiro juízo
lhe pode passar pela cabeça que os detentores destas riquezas fabulosas
necessitem delas para terem uma vida digna. Mas, o pior de tudo é que poderiam
investi-las para criação de empregos, preferindo em vez disso aplicá-las na especulação
financeira.
De qualquer maneira, Catarina Albuquerque
coloca no texto de que é autora o destaque no reconhecimento das desigualdades
para que as mesmas possam ser combatidas.
O 1% mais rico da população mundial detém mais de 50% da riqueza do
planeta e a disparidade está a crescer. Mas será que o enfoque
no dinheiro ajuda a compreender as desigualdades? Ou atua como uma
cortina de fumo que nos impede de ver outras causas? Ao desafiar noções
instituídas, proponho cinco formas de alcançar
mudanças objetivas para lidar com a desigualdade.
1. Reconhecer quem foi “deixado para trás"
Precisamos de dados concretos sobre quem
foi “deixado para trás” para implementar políticas, estratégias e
orçamentos corretos. Muitos países não sabem quem é excluído do acesso aos
serviços de abastecimento de água e saneamento, ou porquê. Isto, porque
estes indivíduos são invisíveis. Uns estão confinados em casa (pessoas idosas,
ou com deficiências), uns ‘fora de vista’ (longe dos centros administrativos) e
outros são sem-abrigo, ou moradores de bairros informais. É preciso fazer
perguntas difíceis: quem está a ser excluído, que desigualdades existem,
porquê? Este é um tema central da Reunião de Ministros
do Setor organizada pela Sanitation and Water for All.
2. Entender como as desigualdades se
acumulam
As desigualdades funcionam por camadas,
e o impacto acumula-se onde os indivíduos pertencem a mais do que um grupo
discriminado. As pessoas com deficiências são estigmatizadas, mas se
acrescentarmos as limitações culturais impostas às mulheres, e a discriminação
contra certos grupos étnicos ou linguísticos, as desigualdades sentidas por
mulheres deficientes pertencentes a uma minoria étnica são tremendas.
3. Desafiar o estigma: a discriminação
socialmente aceitável
O estigma é socialmente construído e
aceite. As pessoas estigmatizadas, como os sem-abrigo, mulheres e raparigas
menstruadas, refugiados, comunidades ciganas, os Dalits e mulheres
que sofrem de fístula obstétrica são frequentemente vistas como inferiores –
sem o reconhecimento de que a sua falta de acesso à água contribui para a sua
estigmatização. Intervenções direcionadas podem abrir os nossos olhos
para os nossos próprios preconceitos e propor ações para superá-los.
4. Rejeitar o mito do “efeito
multiplicador": o último deve ser o primeiro
A ideia do “efeito multiplicador” é que
ao oferecer melhores serviços aos que pagam mais, os serviços públicos
aumentarão rendimentos e estenderão serviços aos mais vulneráveis. Mas a
realidade é outra. Em muitos casos, os que vivem em áreas formais com bons
serviços municipais pagam tarifas baixas; enquanto que os residentes
de bairros informais, pagam muito mais, por serviços de pior qualidade. Os
governos e as empresas de serviços públicos devem priorizar investimento nas
áreas mais pobres.
5. Rever a nossa linguagem
Para garantir igualdade no acesso aos
serviços, temos que mudar a linguagem. Os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável exigem que não “deixemos ninguém para trás”, que
nos foquemos nos mais pobres dos pobres, nos da “última milha”. Mas
a perceção é que só abordaremos os “mais difíceis de alcançar” no
final do processo; em vez de colocar essas pessoas em primeiro lugar. Para
alcançar serviços inclusivos, a linguagem tem que reconhecer e combater as
desigualdades, e não reforçá-las.
(*) CEO da parceria global da ONU Sanitation and Water for All
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