Ouvimos
algures por estes dias a afirmação de que, perante a crise que se vive no Brasil,
já toda a gente e todas as instituições tomaram partido relativamente às partes
em conflito. Perante acusações de corrupção de altas figuras do Estado há
aqueles que desejam que tudo se encaminhe dentro da legalidade democrática e
outros para quem a lei pode ser pisada para atingirem os seus fins. Estes chegam
ao ponto de pedir a intervenção militar e nós sabemos onde isso vai desembocar…
Afirma
o autor do seguinte artigo de opinião (*) que capturámos no Público online de
hoje que o Brasil se encontra num “impasse”. Ele faz algum esforço no sentido
de se colocar numa posição equidistante mas ao afirmar que nada quer “além da
lei e dentro da legalidade”, coloca-se claramente numa posição anti-golpista.
De
salientar a referência a Bolsonaro, um político conservador, defensor da
ditadura militar brasileira alinhado com a extrema-direita, uma espécie de nini
Trump brasileiro.
A
primeira vez que ouvi a expressão 'Trem da História' era criança e, no Brasil,
havia trens. Acho que meu tio falou se referindo a um político civil que
insuflou o golpe de 64 e foi cassado pelos militares. Aconteceu muito disso e
não vale a pena citar nomes. No entanto, que houve civil arrependido, houve.
Outros não. Continuaram no apoio mesmo quando o golpe virou ditadura.
Perdeu
o trem da história o comunista que não pulou fora antes do muro de Berlim vir
abaixo e arrisca-se a perder o inimigo ou apoiador de Fidel incapaz de perceber
que um outro tempo se inicia na Ilha. Perdeu o trem da história o petista
que apoia figuras do PT que, sem dúvida, traíram os ideais do partido e corre o
risco de perder o raivoso que joga no PT a responsabilidade por todas as
mazelas do país.
Apoiar
o juiz Sérgio Moro na divulgação de uma conversa privada entre a presidenta da
República e o ex-presidente é ter a mesma postura de quem argumenta que ela, ao
nomear o aliado ministro, deu um golpe de mestre.
Na
democracia não serve acusar alguém porque é um direito democrático e, quando o
acusado responde, classificar o direito de resposta de bate boca. Muito menos,
acreditar que é um legítimo direito votar no candidato que escolher e chamar de
burro quem votou no adversário.
Parece
que, atualmente, o Brasil está nesse impasse.
De
um lado estão o que representam o bem, a verdade, o melhor para o país. Do
outro, os que dizem que representam tudo isso apoiando o adversário.
O
PT vacilou e lamento que, no vácuo do vacilo, houve espaço para figuras como
Bolsonaro mas nada quero além da lei e dentro da legalidade. Não posso perder o
trem da história como muitos em 64. Principalmente, porque não tenho tanto
tempo e disposição para ficar na estação esperando o próximo.
(*) João Carlos Viegas, jornalista e escritor
brasileiro
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