Nicolau
Santos, director-adjunto do Expresso teve a iniciativa de procurar “poemas que
retratassem o que se passou desde 2011 em Portugal” e, a partir daí, elaborou
um excelente texto que publicou no Expresso Diário desta sexta-feira
(18/3/2016) e, do qual retirámos os seguintes excertos.
[Desde 2011] o Estado deixou
à sua sorte os mais pobres, os mais desfavorecidos, aqueles com menos
possibilidades de reagir aos impactos negativos da crise e atingiu
profundamente a classe média.
(…)
A receita [da austeridade
redentora proclamada por Passos e Portas] era tão brutal que só interessava a
dívida, o défice, as exportações, as importações, o crescimento do PIB. Nunca houve
um discurso sobre as pessoas nem para as pessoas. Mais: sendo transmitido a
impressão que as pessoas é que eram as culpadas de termos chegado a esta
situação, então elas tinham de ser punidas, eram dispensáveis – e, por exemplo,
a ideia de que a morte das pessoas mais velhas resolvia grande parte do
problema da segurança social e do excesso de funcionários públicos quase se
instalou como natural.
(…)
A nossa vida tornou-se
irrespirável, sem alegria.
(…)
No discurso político, a
palavra esperança foi presa e silenciada.
(…)
No fim destes quatro anos
[2011-2015] de ajustamento e dos novos tempos que vamos vivendo, o que todos
temos consciência é que cada vez temos menos soberania, cada vez os nossos
governos têm margem de manobra, cada vez menos os nossos bancos e as nossas
empresas podem fazer o que querem, porque passou a haver entidades
supranacionais, exteriores, que mandam em nós, que nos utilizam como
laboratório para fazer experiências, que nos impõe ditames e orientações que não
se atrevem a impor a outros, entidades que são fortes com os mais fracos e
fracas com os mais fortes.
(…)
Na Europa, a palavra estabilidade
esmagou a palavra crescimento, a palavra solidariedade foi enterrada pelo
défice e pela dívida.
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