Ainda
não conhecemos as causas próximas que levaram à tragédia dos incêndios com
origem em Pedrógão Grande – provavelmente serão várias – mas talvez não
estejamos muito longe da verdade se apontarmos as alterações climáticas como a explicação
mais profunda para o sucedido.
Para
a ciência já é uma evidência que, se nada for feito para proteger o clima da Terra,
dentro de poucas décadas a vida no nosso planeta tornar-se-á impossível. E são os
seres humanos que estão a contribuir com a sua acção para se autodestruírem.
Infelizmente,
a ignorância, o egoísmo, a má fé e a ganância dos principais decisores
políticos do mundo e dos interesses que representam, vão adiando a tomada de
decisões fundamentais no âmbito climático, as quais começam a ser decisivas
para a protecção da vida na Terra. É o caso da actual administração americana,
num país que é o principal responsável pelo ponto a que chegaram as alterações
climáticas.
O
seguinte artigo de opinião assinado por Bárbara Reis no Público de hoje deve
causar-nos arrepios por nos mostrar com clareza aquilo que podemos esperar de
Trump & Cª relativamente à defesa do clima… Retirámos do texto os seus
links a fim de tornar a sua leitura mais leve.
É fascinante como as organizações mais
ultraconservadoras dos EUA, para não dizer radicais e retrógradas, defendem com
a mesma convicção que as mulheres devem ser obrigadas a ter filhos com
malformações profundas, que o casamento gay é errado e que a actividade humana
não está na origem das alterações climáticas.
Como se ser-se conservador nos costumes fosse sinónimo
de cepticismo em relação à ciência. E ser-se socialmente liberal nos tornasse
mais racionais e confiantes na investigação científica.
Mas mais interessante ainda é procurar os nomes de
quem financia o “contramovimento das alterações climáticas”.
Desde 1997, um ano marcado pelas negociações
pré-assinatura do Protocolo de Quioto, foram identificados vários financiadores
desta causa bizarra. Há nomes conhecidos como as Fundações Scaife, que apoiam
doidos como a Reason TV. Há nomes obscuros como o Knowledge and Progress Fund,
o Heartland Institute e o Americans for Prosperity. E há os clássicos, como a
ExxonMobil e os irmãos Koch (só Charles e David Koch, donos de um conglomerado
de petróleo, gás e químicos com sede no Kansas, ofereceram nos últimos 20 anos
100 milhões de dólares a 84 grupos que negam a responsabilidade humana nas
alterações climáticas).
Entre 2003 e 2010, a “causa céptica" recebeu 500
milhões de dólares, um quinto do apoio dado às organizações ambientalistas. A
desproporção é no entanto mitigada pelo (diferente) uso que ambas fazem do
dinheiro. Os “cépticos” investem em lobbying (a congressistas ou
estudantes) e os que confiam na ciência investem na procura de soluções (como
desenvolver uma indústria de painéis solares na China).
De onde vêm estes 500 milhões? A origem do dinheiro
dos “cépticos” é cada vez mais secreta. Uma das razões chama-se Donors Trust e
Donors Capital Fund, fundos criados logo a seguir a Quioto para “proteger as
intenções dos doadores libertários ou conservadores” que “se dedicam aos ideais
do 'governo pequeno', da responsabilidade pessoal e da livre iniciativa”.
Garantem sigilo a quem dá dinheiro e garantem a sua distribuição pelas “causas
certas”. Por outras palavras, são caixas negras impossíveis de escrutinar.
Não espanta que os milionários cépticos tenham pudor.
A ciência é esmagadora. Passariam por tolos. A NASA diz que o nível do mar
subiu 20 centímetros no último século e que nos últimos 20 anos o ritmo da
subida foi duas vezes mais rápido; que a temperatura aumentou 1,1 graus Celsius
desde o século XIX, “uma mudança sobretudo causada pelo aumento de dióxido de
carbono e outras emissões produzidas pelo homem que são lançadas para a
atmosfera”; que a superfície de gelo da Antárctida perdeu 152 quilómetros
cúbicos de gelo só entre 2002 e 2005; que os glaciares estão a derreter em todo
o planeta (Alpes, Himalaias, Andes, Alasca e África); que a acidez das camadas
superficiais da água do mar aumentou 30% desde a Revolução Industrial; e que o mês
de Maio de 2017 foi o Maio mais quente de sempre em 137 anos de registos.
Há dias, em duas audiências separadas no Senado, o
democrata Al Franken, que foi comediante antes de ser político, fez várias
perguntas simples e directas a dois membros da Administração Trump sobre
alterações climáticas. Fica-se sem saber se é melhor rir ou chorar. Ryan Zink,
secretário do Interior, e Rick Perry, secretário da Energia, não conhecem
sequer os dossiers. Zink, que no passado defendeu que os glaciares derretem de
“forma consistente” há milhares de anos, não soube (ou não quis arriscar)
responder à pergunta: “Que previsões fazem os cientistas que trabalham para o
Governo em relação ao aquecimento global?”. Já Perry disse que o melhor será
encomendar-se um exercício estilo cientistas pró versus cientistas
contra e esperar pelos resultados. Franken fez-me rir como quando eu me ria com
os seus sketches. “Mas isso já foi feito e sabe quem pagou? Os irmão
Koch! Os irmãos Koch! E sabe qual foi o resultado? Igual a todos os outros
estudos.” Zink e Perry também acham que a NASA inventou aquilo de um homem ter
ido à Lua.
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