Ao
rasgar esta semana o Acordo de Paris sobre as alterações climáticas, o
presidente dos Estados Unidos (EUA) fez uma declaração de guerra à humanidade. Só
os próximos tempos nos poderão confirmar as reacções negativas das populações à
escala mundial relativamente a esta – no mínimo – irresponsável decisão, mas as
primeiras informações que nos chegam indicam que o movimento de contestação vai
ser muito forte, a começar nos próprios EUA. A título de exemplo, sabe-se que
71% dos americanos acham que o país deveria manter-se no Acordo de Paris; os governadores de três Estados – Califórnia, Nova Iorque e Washington – tencionam
aderir formalmente ao Acordo; 187 presidentes de câmara, onde se incluem algumas
das maiores cidades dos EUA, comprometeram-se a manter os seus municípios no
Acordo de Paris.
O
tempo urge para a humanidade e chegou o momento de todos tomarmos uma posição
firme que faça reverter as alterações climáticas ou seremos responsáveis pelo
aniquilamento da espécie humana, não esquecendo, que, apesar de actualmente os
EUA já não serem os maiores emissores de poluição do planeta, são, sob o ponto
de vista histórico, os principais responsáveis “pelas emissões poluentes
acumuladas ao longo de décadas”, como afirma no seguinte artigo de opinião que
transcrevemos do Público desta sexta-feira, Francisco Ferreira, Professor
universitário e Presidente da ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável.
As alterações climáticas são o maior
problema do século XXI e os Estados Unidos da América o seu principal
responsável histórico pelas emissões poluentes acumuladas ao longo de décadas.
Trata-se de um problema que não é político ou legal, mas verdadeiramente
humanitário, com consequências enormes principalmente para as populações dos
países em desenvolvimento.
O Acordo de Paris, conseguido na
Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas em 2015, estabelece
metas de emissões de carbono para cada um dos países com diferentes graus de
exigência e permitiu um entendimento entre todas as nações do mundo sobre a
forma progressiva de evitar um aumento de temperatura mais elevado. Depois de
anos de negociações, depois de um compromisso de metas limitado aos países
desenvolvidos estabelecido pelo Protocolo de Quioto em 1997, depois do falhanço
redondo de um acordo em Copenhaga (em 2009), depois de anos de conflitos,
avanços e recuos dos EUA e da China, o Presidente Obama e o Presidente Xi
Jinping ultrapassaram as suas divergências em setembro de 2014 e conseguiram
chegar a um entendimento nesta matéria, concretizado em dezembro de 2016 em
Paris.
Formalmente, o estipulado no próprio
Acordo estabelece que os EUA só poderão comunicar a sua saída formal três anos
após a sua ratificação, o que aconteceu em setembro de 2016, e a saída
definitiva só terá lugar um ano após esta comunicação. Porém, o que realmente
importa é o divórcio e o isolamento que Trump escolheu. Neste caso, mais do que
a parte formal, interessa o pensamento ideológico e a irracionalidade da
decisão. Esta saída tem na sua base razões de política interna e de afirmação
do Presidente Trump, com justificações que não fazem sentido, pois os custos da
inação serão sempre superiores às medidas de mitigação de emissões e os
empregos são cada vez mais verdes.
Mais ainda, a saída dos EUA não põe em
causa o enorme esforço de redução de emissões e de transição para as energias
renováveis que está a ocorrer no mundo mas também por parte de muitos estados
americanos, municípios e, principalmente, empresas. Os investimentos em
energias renováveis e em eficiência energética vão continuar a acontecer, na
América e no mundo, e estamos a caminhar para um planeta e uma economia cada
vez mais livre dos combustíveis fósseis. Este alheamento dos EUA fragiliza o
multilateralismo e ação concertada à escala mundial, mas não levará outros
países atrás.
O Acordo vai proporcionar certamente
novas lideranças como a China, permitindo também o levantar da moral da União
Europeia que se deve mostrar mais unida e ambiciosa. Renegociar o Acordo é uma
verdadeira ficção e o abandono da contribuição dos EUA para o Fundo Climático
Verde, que permite aos países com menor capacidade adaptarem-se às
consequências das alterações climáticas, é de uma enorme injustiça por parte do
país principal responsável pelo problema.
Felizmente, o Acordo de Paris é maior do
que qualquer nação ou qualquer governo. Ainda podemos conseguir a promessa de
Paris, mas não temos tempo a perder. Os países de todo o mundo devem aproveitar
a oportunidade para libertar esse potencial, investir em energia renovável que
elimine a poluição nociva do carbono e construir economias mais flexíveis,
inclusivas e prósperas.
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