O
CDS versão Cristas, numa atitude claramente populista, mostrou-se muito pudico em
relação à aprovação da lei do financiamento público dos partidos políticos. Muitos
desconfiam que esta tomada de posição tem tudo a ver com outras fontes de
financiamento que os centristas não revelam…
Ainda
não decorreram muitos anos sobre a observação do corrupio de funcionários do
CDS a caminho de um balcão do BES na Rua do Comércio em Lisboa, onde foi
depositada uma soma considerável de dinheiro que sempre se suspeitou ser a
favor daquele partido, coisa que nunca chegou a ser provada judicialmente.
Outra
história tem lugar na actualidade com a deputada centrista Assunção Cristas a
beneficiar todas as semanas de uma página inteira no CM, a qual, se fosse paga
como publicidade, custaria até às eleições parlamentares de 2019
aproximadamente 3 milhões de euros…
É
à volta destes dois temas o interessante texto – publicado a seguir – que capturámos
do Expresso Economia de ontem, assinado por Francisco Louçã.
De 27 a 30 de dezembro
de 2004 foi muita a azáfama de fim de ano, mas mesmo assim notou-se, no balcão
do BES da Rua do Comércio, que os funcionários do CDS vinham com minutos de
intervalo, um atrás do outro. Cada um depositava uma quantia inferior a 12.500
euros, o limiar para a comunicação às autoridades, e voltava. Fizeram assim 105
depósitos, num total de mais de um milhão de euros. Para justificar a operação
foram passados 4216 recibos e foi aí que apareceu o notório Jacinto Capelo
Leite Rego, logo chamado Capelo Jacinto Rego Leite, coisas da imaginação.
O Ministério Público
acusou o tesoureiro e três funcionários, argumentava que este milhão pagava a
autorização dada ao Grupo Espírito Santo para uma operação imobiliária no Ribatejo,
e extraiu certidão para outra investigação sobre os submarinos. O Tribunal da
Relação entendeu que não havia prova, assunto encerrado.
De facto, a lei não
permite o financiamento de partidos por empresas. Mas, por vezes, o escrutínio
sempre atento das autoridades de contas, honra lhes seja feita, é contornado
por subterfúgios. A página semanal de publicidade do CDS no “Correio da Manhã”,
publicada desde outubro de 2016, é o caso mais surpreendente.
Foi uma opção arriscada,
por colocar no centro da operação a própria presidente do partido. Assunção
Cristas, dentro da linha editorial do jornal, é certamente uma cronista bem
escolhida. Seria interessante conhecer a opinião dela sobre temas relevantes,
Trump ou as eleições italianas, o emprego, a saúde, os grandes debates. Mas o
que Cristas assina todas as semanas é uma exposição cândida sobre a agenda do
partido, as suas reuniões, os comícios convocados ou as leis que apresenta.
Inclui também a sua ida a espetáculos e eventos sociais, com uma tocante profusão
de fotos de si própria: nas últimas seis semanas, foram 14 e já chegou a
publicar cinco numa página.
Anuncia-se que ela
esteve numa procissão ou “com o nosso deputado Nuno Melo, com o presidente da
Comissão Europeia”, que vai a uma sessão do partido num café em Coimbra para
“ouvir Portugal” com “cinco oradores independentes, notáveis”, outra em
Montalegre, “a ouvir Portugal e a trazer maravilhosas alheiras para jantar”.
Elogiando a sua Convenção Autárquica, Cristas garante que “o CDS está a
crescer”. Noutro dia apresenta a sua moção ao congresso e a evidente
recandidatura, pois “fizemos muito trabalho”. Explica que “acredito que o
trabalho sistemático e bem fundamentado trará resultados e proponho que o
partido continue este caminho de trabalho”. E é trabalho: “esta tarde
apresentamos no parlamento 12 diplomas na área da justiça” e segue o cadastro.
Folheie-se outra edição qualquer: anúncio de reuniões, listas de leis, agenda
da líder, as suas fotografias a ilustrar. Isto chama-se publicidade, que pena não
ser um comentário argumentado para ajudar ao debate público.
Só que a publicidade tem
um preço. No “Correio da Manhã”, é 15.070 euros por página, mais IVA. Assim, ao
chegar às eleições de 2019, Cristas terá recebido o favor de 2,351 milhões de
euros em publicidade não paga, mais os 541 mil euros de IVA que poupou, num
total de 2,892 milhões.
Não sei se a decisão partiu da Altri, a gigante da pasta de papel que é
proprietária do jornal e que conhece bem a ex-ministra, que se destacou
enquanto esteve no governo pela proteção ao sector dos eucaliptos, ou da
direção do “Correio da Manhã”. Mas que todos trocaram publicidade mal
disfarçada pela oportunidade de um debate interessante, isso é facto.
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