O
texto seguinte constitui um artigo de opinião assinado pela deputada do Bloco
de Esquerda, Sandra Cunha (SC), no “Público” de hoje. Trata-se de uma
interessante chamada de atenção para a desigualdade de género, ainda muito
gritante em Portugal, tendo como ponto de partida a recente comemoração do Dia
Internacional da Mulher e da mega manifestação que em 8 de Março teve lugar em
Espanha, onde terão participado mais de cinco milhões de pessoas. Segundo SC,
em Portugal as razões para uma greve de mulheres são mais que muitas, passando
a enumerar algumas delas. Chegou, pois, a “altura
de dar um passo maior e articular lutas”.
No passado dia 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, por
todo o mundo replicaram-se manifestações, de diferentes dimensões, que voltam a
provar, ano após ano, a necessidade de assinalar um marco na história da
emancipação das mulheres. Mas mais do que isso, trata-se de ganhar balanço para
continuar a luta.
De todas as manifestações, não podemos deixar de salientar a
luta das mulheres em Espanha. O movimento feminista aliou-se a vários
sindicatos para convocar uma greve de mulheres, de duas horas, que contou com a
adesão de mais de cinco milhões de pessoas. Não é coisa pouca!
O passo tomado em Espanha é fulcral: o movimento feminista que
precisamos, tem que responder à grande massa de trabalhadoras, precárias e
discriminadas todos os dias no local de trabalho, mas também quando saem dele,
na rua ou na família.
Em Portugal as razões para uma greve de mulheres são gritantes.
As mulheres ganham menos 16,7% do que os homens. É como se deixassem de
trabalhar todos os anos a partir do mês de novembro ou trabalhassem de graça
dois meses por ano. Entre 2011 e 2016, fomos o país da União Europeia em que o
fosso salarial mais cresceu entre homens e mulheres. As mulheres com mais de 65
anos ganham menos 43,5% do que os homens. Continuam a ser as mais vulneráveis à
pobreza e à exclusão social.
Num mercado de trabalho em que 67,4% das mulheres trabalha a
tempo inteiro (face a 74,2% dos homens) continuam a verificar-se desigualdades
e discriminação no acesso ao emprego e especialmente no acesso a cargos de
chefia e liderança, no setor privado ou no Estado. Nas entrevistas de emprego
ainda se pergunta às mulheres sobre filhos ou futuros filhos, mas aos homens
não.
Muitas mais razões existem, da participação e representação
política, da subalternização das mulheres que são mais qualificadas à partilha
das responsabilidades domésticas e com os filhos, ou do assédio e violação à
violência doméstica e no namoro.
Não compreender que todas estas desigualdades, discriminações e
violências se entrecruzam e se fortalecem numa teia que oprime, menoriza e
humilha as mulheres, é não perceber o sistema patriarcal.
Regina Marques, da direção do Movimento Democrático das Mulheres
(MDM), considerou a greve espanhola um “show-off”
e afirmou que “em Portugal não existem ainda razões para uma greve de
mulheres”. Segundo Regina Marques, em Portugal “só metade das mulheres é que
são trabalhadoras e têm de fazer greve por razões laborais e não por outras
questões". Não tem razão, como é óbvio demais. O mesmo dirão, a favor
dessa greve feminista, tantas trabalhadoras, desempregadas, precárias,
reformadas ou imigrantes.
É altura de dar um passo
maior e articular lutas. Precisamos de aprender com mobilizações como a da
greve de mulheres em Espanha. O desafio é construir em Portugal esse espaço de
diálogo e juntar forças. E é preciso que os sindicatos partilhem essa visão, em
vez de serem desencorajados a fazê-lo.
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