Do deputado João Vasconcelos (JV) recebemos
Projeto de
Resolução do Bloco de Esquerda entregue hoje (29/03/2018) na Assembleia da
República, que recomenda ao Governo "o levantamento urgente de todas as
infraestruturas patrimoniais em risco e
a elaboração de um plano de intervenção e mitigação de riscos da faixa
costeira, reposição de cordões dunares e dragagens no Algarve". Deverá ser
discutido e votado na próxima semana.
Esta iniciativa resultou
da visita que JV fez na passada segunda-feira a Cacela Velha, juntamente
com camaradas das concelhias bloquistas de Tavira e Vila Real de Santo António.
Trata-se de uma proposta mais abrangente, procurando englobar a questão urgente
da Cacela, mas também outras, como o grave assoreamento da barra de Tavira,
Fuzeta, etc.
PROJETO DE RESOLUÇÃO Nº …./XIII/3ª
RECOMENDA AO GOVERNO O LEVANTAMENTO URGENTE DE TODAS AS INFRAESTRUTURAS
PATRIMONIAIS EM RISCO E UM PLANO DE INTERVENÇÃO E MITIGAÇÃO DE RISCOS DA FAIXA
COSTEIRA, REPOSIÇÃO DE CORDÕES DUNARES E DRAGAGENS NO ALGARVE
Um natural processo
erosivo ao longo dos tempos, conjugado com movimentos bruscos e imprevisíveis,
de natureza sísmica ou outra, tem provocado o recuo da linha de costa e a
derrocada de arribas na faixa litoral do Algarve. Muitas destas derrocadas
acarretam situações de risco e os perigos espreitam a todo o momento.
Se muitos riscos são
inevitáveis, outros podem ser evitados, ou minimizados, através de medidas
preventivas, ambientalmente sustentáveis e garantindo parâmetros de segurança
de pessoas e bens, nomeadamente através da colocação de sinalização adequada,
derrocadas controladas, desmoronamento de blocos de forma seletiva e desbaste
de arribas instáveis.
Algumas derrocadas de
arribas têm ocorrido na costa rochosa do Algarve Barlavento e com consequências
trágicas, como a que teve lugar no verão de 2009, na Praia Maria Luísa, levando
à morte de diversas pessoas. Os recentes temporais provocaram novas derrocadas
nas costas da região.
Os temporais que
constantemente fustigam a orla costeira algarvia e que potenciam a ação
hidrodinâmica do mar têm provocado a remoção de areias e a consequente
destruição de praias, escavado arribas e até a destruição do cordão dunar de
que é exemplo a Ria Formosa. Além dos prejuízos ambientais também são afetadas
as atividades económicas ligadas ao turismo, seja de sol e praia, ou turismo
marítimo, a pesca, a aquacultura e o património histórico e cultural.
Uma das situações mais
preocupantes é a de Cacela Velha, classificada como Imóvel de Interesse
Público, no concelho de Vila Real de Santo António. O seu património construído
e arqueológico pode estar em risco devido à exposição da localidade à ação do
mar e que foi agravada pelos temporais do mês de março de 2018. A arriba que
sustenta a fortaleza ficou demasiado escavada e coloca assim este imóvel em
risco.
Uma situação que já se
tinha iniciado em 2010 com a abertura de uma barra artificial frente a Cacela
Velha. Grande parte da duna primária desapareceu devido ao galgamento do mar,
as areias encontram-se todas espraiadas na ria e a água vem bater mais junto à
muralha. Todo o património edificado, onde se destaca o Forte, a Igreja e o
Cemitério, assente em barreira de arenite faz aumentar o seu risco de
desmoronamento. O sítio arqueológico existente no local também se encontra em
sério risco de destruição. Também foi destruído o último viveiro de ostras
ainda existente na ria frente a Cacela.
Muitos outros locais da
orla costeira do Algarve foram atingidos pelas recentes intempéries, com
destaque para os concelhos de Faro, Tavira, Vila Real de Santo António, Olhão e
Portimão. Os prejuízos são elevados devido a derrocadas de arribas e outras
estruturas, remoção de areias de praias e dunas e agravamento do assoreamento
de barras e canais.
Além do desaparecimento
da duna frente a Cacela, na Fuzeta o cordão dunar foi fortemente escavado pelo
mar e na praia de Faro o mar voltou a galgar a duna principal e a causar muitos
estragos. Em Portimão, as praias dos Três Irmãos e dos Careanos foram
fortemente afetadas, e as barras e canais de Tavira, Fuzeta, Armona e outras
áreas da Ria Formosa viram o seu assoreamento fortemente agravado.
Desde o início do ano,
em virtude dos fortes vendavais, forte pluviosidade e intensa agitação
marítima, ocorreram cerca de duas dezenas de derrocadas e desmoronamentos de
arribas no Barlavento Algarvio, de acordo com elementos fornecidos pela Agência
Portuguesa do Ambiente.
Desde longa data, a
anterior Administração da Região Hidrográfica Algarve, a que se seguiu a
Agência Portuguesa do Ambiente (APA), tem acompanhado e monitorizado, através
de ações preventivas, as zonas de risco da orla costeira do Algarve. Estas
ações têm sido acompanhadas pelas Câmaras Municipais da região, pela Autoridade
Marítima Nacional e por outras autoridades competentes.
Muitas destas ações,
umas pontuais e até de emergência, outras conjunturais e mais de fundo, como a
alimentação artificial de praias, além de diminuir os riscos e aumentar a
segurança, contribuem para uma maior estabilidade da geodinâmica da linha de
costa. A segurança de pessoas e bens revela-se determinante para o bem-estar, o
conforto, o lazer, em particular na época balnear, e o incremento das
atividades económicas no Algarve, com destaque para o turismo, mas também para
a pesca, aquacultura, comércio, artesanato, agricultura e outras atividades.
Desta forma, importa que
o governo atue com urgência, através da sua administração desconcentrada,
procedendo a um levantamento criterioso de todas as situações de risco e que
elabore planos de intervenção e mitigação de riscos da faixa costeira do
Algarve, assim como de reposição de cordões dunares e de dragagens de canais,
portos e barras da região, alvos de um forte assoreamento e agravado pelos
últimos temporais.
Ao abrigo das
disposições constitucionais e regimentais aplicáveis, o Grupo Parlamentar do
Bloco de Esquerda propõe que a Assembleia da República recomende ao Governo
que:
1.
Proceda a um levantamento urgente de todas as infraestruturas patrimoniais
em risco no litoral do Algarve, de que é exemplo a Fortaleza de Cacela Velha,
relacionadas com o desmoronamento de arribas, assoreamento de barras e canais e
destruição dos cordões dunares da Ria Formosa.
2.
Elabore, até ao início do próximo verão, um Plano de Intervenção e
Mitigação de Riscos da Faixa Costeira Algarvia, levando à realização de obras
nas infraestruturas danificadas pelos temporais e agitação marítima.
3.
Concretize, com urgência, um Plano de reposição de cordões dunares e de
dragagens de todas as barras, canais e portos gravemente assoreadas no Algarve,
com destaque para as áreas da Ria Formosa e da Ria de Alvor.
Assembleia da República, 29 de março de 2018.
As Deputadas e os Deputados do Bloco de Esquerda
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