domingo, 8 de janeiro de 2012

LER NAS ENTRELNHAS

Houve um tempo em que, jornalistas ou quaisquer pessoas que escrevessem para um periódico, tinham de ponderar muito bem o que redigiam sob pena de serem molestadas ou, no mínimo, marcadas pela polícia política do regime salazarista. Muitos habituaram-se a refinar estratagemas para contornar a censura que era exercida sobre todas as publicações. O uso de metáforas ou outras figuras literárias era frequente até porque muitos censores não possuíam grande cultura geral que pudessem entender o significado de expressões mais subtis.
Lembrámos estas situações a propósito de um texto do jornalista Nicolau Santos (NS) que veio publicado ontem no suplemento de Economia do Expresso. Agora, as pressões para calar verdades inconvenientes vêm, de uma forma mais sofisticada do que no tempo da ditadura mas que produzem os efeitos igualmente pretendidos: impedir a liberdade de expressão quando esta atinge instituições e pessoas muito poderosas. Percebemos muito bem todo o significado do artigo de NS.

ESTA GENTE É SÉRIA. MESMO MUITO SÉRIA
"Há um ano terminei um texto sobre a Ongoing com a frase “esta gente é perigosa”. Valeu-nos, a mim e à Impresa, um processo no qual é pedida uma indemnização de €70 milhões. Depois das notícias da última semana, resigno-me e retrato-me. Esta gente não é perigosa. Pelo contrário, esta gente é séria. Séria por pertencerem a uma reputada loja maçónica, a Mozart49. Séria porque contrataram pessoas sérias dos serviços secretos que pertencem à mesma loja. Séria porque essas pessoas sérias lhes passaram informações quando trabalhavam nos serviços e continuaram a utilizar os serviços quando passaram a trabalhar no grupo. Séria porque nunca utilizaram meios menos sérios para obter vantagens em empresas onde são accionistas. Séria porque nunca recorreram a “tweets” na net para fazerem campanhas contra pessoas. Séria porque nunca utilizaram as ligações da Mozart49 para atingir os seus objectivos. Repito: esta gente não é perigosa. É séria. Muito."

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