quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

RETRATOS

Ontem e hoje fomos brindados com textos de grande qualidade, da autoria de gente de esquerda. Destacamos os de José Vitor Maleiros no “Público”, de Batista Bastos no DN e de Manuel António Pina no JN. Pela sua natureza, é impossível destacar os excertos mais importantes em cada um deles, devendo, por isso, ser lidos na íntegra.

“Mas, seja qual for a razão, será que os jornalistas da televisão se dão conta do retrato que fazem do país? Um país resignado, onde o único discurso pertence ao Governo, onde não há opções políticas, reais discordâncias, debates em pé de igualdade, alternativas, revolta, indignidades, hipocrisias? Onde há apenas assaltos para justificar o medo, acidentes para emocionar, pobres para justificar a caridade e governantes tão generosos que dão sete euros por mês aos mais pobres e que nos explicam que não sobra dinheiro para o SNS depois de pagar o juro das dívidas que meteram nos bolsos dos seus amigos?”
Extraído da crónica de José Vitor Malheiros “Retrato de grupo com o país ao fundo”, Público, 3/01/12, online aqui


“Entramos no novo ano sob o peso de ameaças e de abominações terríveis. O medo institucionalizou-se através do discurso oficial. É um sentimento que nos acompanha há, pelo menos, quatro séculos, com a omnipresença da Inquisição, que a República atiçou e que o salazarismo subtilizou em métodos e processos. Consoante as ocasiões, a política tem utilizado os vários níveis do medo não só como intimidação mas, sobretudo, como ideologia. Há meses que nos dizem, ministros e acólitos, "comentadores" estipendiados e adjacências, dos pavorosos sacrifícios, das misérias atrozes com os quais vamos ser açoitados inclementemente. É uma estratégia indigna, mas eficaz. Não há ninguém que fale em 2012 sem o reduzir a uma qualquer palavra infamante. Mas, depois, ah!, mas depois o Governo, salvador e piedoso, admirável e sábio resolverá a maldição e tudo será leite e mel.”
Batista Bastos, “Este medo que nos consome”, DN, hoje


“Para o arcebispo [Javier Jimenez], os crimes de Hitler e Estaline (esqueceu-se dos de Franco) "são menos repugnantes que o do aborto". É em alturas assim que até um não crente gostaria que existisse um Deus que julgasse esta gente.
Manuel António Pina, “Estuprem-nas, elas merecem”, JN, hoje

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