Já sabemos há muito tempo que a Goldman Sachs ajudou o governo grego a mascarar as suas contas para a Grécia poder entrar no euro. Naturalmente, deve ter sido bem remunerada para esse efeito. Ao mesmo tempo, aquela empresa financeira deixou no país a semente da tragédia que o viria a atingir quando foi obrigado a solicitar um resgate internacional, com as consequências que todos conhecemos. Desta vez, a Goldman Sachs voltou a ganhar milhões, especulando contra a dívida grega. Não estamos, portanto, perante o “normal funcionamento dos mercados” mas diante uma sórdida urdidura, justamente, para sugar o máximo possível às vítimas que tenham o azar de cair nas suas malhas. Questões éticas ou problemas sociais que possam causar não entram nas contas desta gente que apenas olha para a maximização dos lucros ainda que isso seja feito à custa da miséria de milhões. O texto seguinte foi transcrito do suplemento Economia do Expresso de 2/6/2012.
AFINAL, OS ESPECULADORES EXISTEM
Já ouviu dizer seguramente que não há especuladores. Aquilo a que chamamos especuladores são investidores e os mercados a funcionar. Ora não é que nos últimos dias estamos a descobrir que, afinal, os especuladores existem mesmo.
O primeiro caso foi denunciado pela CMVM. Um artigo publicado em 2010 num jornal internacional dizia que Portugal cairia a seguir à Grécia, depois desta ter pedido ajuda. Um dos autores é accionista e administrador de um fundo, que apostava na desvalorização dos títulos da dívida portuguesa. Publicado o artigo, as cotações caíram e o fundo passou de um prejuízo para uma expressiva mais-valia.
Por seu turno, o maior banco americano, JP Morgan, anunciou prejuízos de dois mil milhões no primeiro trimestre. Razão: uma aposta de alto risco em produtos derivados no mercado europeu.
E em terceiro, segundo Marc Roche, a Goldman Sachs ajudou a Grécia a esconder a sua situação para entrar no euro – e depois ganhou milhões a especular contra a dívida grega, apostando que seriam obrigados a pedir ajuda internacional. Quando nos voltarem a dizer que não existem especuladores, já teremos resposta. Ou isto é o normal funcionamento dos mercados? (Nicolau Santos)
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