Na crónica que assina quinzenalmente no “Público” (edição impressa), o Prof. Santana Castilho aborda hoje vários temas, todos eles de importância premente. Optámos por transcrever aqui o primeiro por o considerarmos o mais significativo no âmbito do país. São dados divulgados pela UNICEF que, mais uma vez nos colocam numa posição vergonhosa no universo em que estamos inseridos.
É bom que tenhamos consciência de que este relatório diz respeito a 2009, quando os efeitos da crise ainda mal se começavam a sentir. Imaginemos qual será a situação actual…
Quando se vangloria com o cumprimento das metas traçadas pela troika e com os elogios desta, o Governo demonstra que não tem um pingo de vergonha na cara nem um mínimo de sensibilidade social, sabendo-se a situação a que o país chegou, fruto da agressividade das medidas de austeridade. Para esta gente, o desemprego, a miséria, a fome, constituem apenas danos colaterais de políticas que, à força, nos querem convencer que não têm alternativa. Isto é mentira e, quando os portugueses verificarem que os brutais sacrifícios a que estão sujeitos não servirão para nada, vai ser o bom e o bonito… Não há propaganda que consiga mascarar uma realidade tão óbvia.
Leia-se, então, o primeiro ponto da crónica de Santana Castilho.
A Unicef divulgou o relatório "Medir a Pobreza Infantil", considerando crianças até aos 16 anos e dados de 2009. Num universo de 29 países estudados, Portugal está na 25.ª posição. Atrás de nós só Letónia, Hungria, Bulgária e Roménia. Quase um terço das crianças portuguesas está em carência económica (o critério é o não cumprimento de dois ou mais dos 14 requisitos considerados). Essa carência dispara para 46,5% se o universo for o das famílias monoparentais ou 73,6% se ambos os progenitores estiverem no desemprego. Há crianças (14,7%) que vivem em famílias cujo rendimento não ultrapassa os 200 euros mensais. A desatenção que as autoridades portuguesas dão às nossas crianças está bem patente quando verificamos que a taxa das que sofrem privações é três vezes superior à dos países com idêntico rendimento per capita. Sendo certo que os efeitos da presente crise ainda não se manifestavam em 2009, imagine-se a brutalidade dos números se fossem reportados à actualidade. É insensato fingir que esta realidade não existe.
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