As fortes críticas com que, há poucos dias, o Bispo das Forças Armadas brindou o Governo, a juntar à tomada de posição pública, igualmente crítica, do Cardeal Patriarca de Lisboa vêm demonstrar que existe um forte mal-estar na sociedade portuguesa embora tal ainda não tenha tido consequências bem menos pacíficas do que as meras palavras. Quando uma instituição que normalmente alinha com as posições dos governos mais conservadores vem publicamente criticá-los é porque algo de muito grave se está a passar. E está mesmo.
Importante, mais uma vez aqui deixamos referido, é que se faça uma divulgação de tomadas de posição deste tipo para desarmar a propaganda oficial que tende a atribui-las sempre a forças políticas “extremistas”. Este texto é um exemplo disso e foi transcrito do “Diário de Coimbra” de ontem (10/6/2012).
Viva por… Torgal Ferreira!
Há quatro meses, eu dizia aqui que este Governo estava politicamente defunto. Esta semana, o Bispo das Forças Armadas, D. Januário Torgal Ferreira, disse que o país já não tem governo. E o cardeal de Lisboa, d. José Policarpo, acrescentou que precisamos de uma “revolta cultural”, para sair da crise. Dito isto, pode concluir-se que os que me acusam de contundência verbal estão em pecado, porque já não vão à missa, há muito tempo.
Esta tomada de posição de dois altos dignitários da Santa Madre, pode ter várias explicações. Destaco uma. Este governo revela uma enorme pobreza de espírito, idiossincrasia que, em regra, a Igreja não contempla, na sua piedosa condescendência.
As declarações dos dois prelados podem compaginar-se. Torgal Ferreira exortou os portugueses a irem “para a rua, não para fazer tumultos – avisou – mas para fazer democracia”. Provavelmente, é a isto que o Cardeal Patriarca chama de “revolta cultural”. Queira Deus que assim seja.
A situação é tão grave que a igreja decidiu falar e fê-lo da melhor maneira e no momento adequado, quando as asneiras do executivo se sucedem a um ritmo que vai muito para lá do admissível.
O Primeiro-Ministro cometeu o disparate de manter o ministro Relvas em funções, isto é, regou-se com gasolina e agora está apenas dependente de um qualquer fósforo que se acenda, para a imolação total. Todos os dias vamos tendo novas revelações sobre o caso das “secretas” e do affaire Relvas/Silva Carvalho. Foi um presente para a oposição, que vai tirando dividendos deste desgaste contínuo. Ao mesmo tempo que a economia falece e o aparelho produtivo se vai tornando numa inútil obsolescência.
Pedro Passos Coelho – tenho-o dito – não tem uma acção concertada para o país e esgotou, em poucos meses, um parco programa político que provou à saciedade não conter as soluções para os graves problemas com que Portugal se confronta. O discurso também se esgotou e hoje, o Primeiro-Ministro não tem mais nada a dizer, para além de agradecer a paciência com que os portugueses o toleram e a resignação, perante tanta inépcia. Está sem estratégia. Quer tudo o que Angela Merkel quer e não quer nada do que Angela Merkel refuta. Mas, em bom rigor, nem sequer conhece a substância das preferências e das escusas da chanceler alemã. É pouco para um Primeiro-Ministro.
Merkel não o pode ajudar, porque não está interessada em resolver qualquer crise. A sua grande prioridade é manter o sistema neoliberal, com a predominância da finança, sobre a produção e o trabalho. Há desemprego? Isso é bom, para baixar os salários e todos os outros custos do trabalho. As empresas que produzem não se conseguem refinanciar? Também não é grave porque, importante é remunerar o capital. Além disso, no próximo ano há eleições na Alemanha, decisivas para o futuro da senhora Merkel.
Passos Coelho não tem culpa da crise financeira internacional, que fustiga a Europa. Mas tem culpa de se ter candidatado a Primeiro-Ministro, função para a qual não tem competência política, nem estatura intelectual. A hora da sua despedida está a chegar e vai sair, sem ter resolvido um único problema. Pelo contrário, conseguiu acrescentar alguns ao pacote que herdou de José Sócrates.
Acredito nas minhas fontes que considero fiáveis, Pedro Passos Coelho não usou da palavra, uma única vez, em vários Conselhos Europeus em que participou, ao longo de um ano. Tal como não apresentou uma única proposta. Com governantes destes, Portugal passa facilmente de estado membro a mero observador. O Primeiro-Ministro é um homem de palha, sem voz. Foi por estas e por outras que D. Januário Torgal Ferreira disse que Portugal não tem Governo. Pois não. (Sérgio F. Borges)
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