sábado, 16 de junho de 2012

REMUNERAÇÕES INFAMES



A linguagem utilizada pelo não-ministro deste Governo, António Borges, que defende uma diminuição dos salários dos portugueses enquanto ele se locupleta com lautas remunerações, tem a mesma raiz que a da senhora Lagarde que exorta os gregos a pagar os seus impostos enquanto ela recebe vencimentos livres de qualquer taxa e não são nada baixos. Estão a aplicar a si próprios a ideologia que sustentam. Digamos, em abono da verdade, que são coerentes com a ignomínia que defendem.

Os salários que estão a ser oferecidos por cá, para além da infâmia que representam, por serem propostos a gente com formação muito avançada, constituem mais uma achega para atirar para fora do país muitas das nossas melhores cabeças que irão contribuir para a produção de riqueza em zonas do globo que não investiram um cêntimo na sua formação. O dr. Borges esquece que, por enquanto, os portugueses, em especial os mais jovens, ainda não estão acorrentados ao país em que nasceram e, certamente irão, muitos deles, procurar condições de trabalho fora de Portugal.

É à volta desta ideia que gira o texto seguinte de Nicolau Santos que transcrevemos do suplemento Economia do “Expresso” de hoje, 16/6/2012.



QUANDO FALAMOS DE SALÁRIOS…

António Borges criou uma tempestade política ao afirmar que “a diminuição de salários não é uma política, é uma urgência” – embora tenha acrescentado que não pode ser de maneira nenhuma uma perspetiva de futuro”. É claro que Borges peca por duas razões. A primeira é por não aplicar a si próprio o que propõe para os outros, acumulando salários públicos e privados. E depois por não explicitar a que salários e setores se refere. Uma empresa de comércio de mobiliário e artigos de iluminação pede arquiteto, com mestrado, para trabalhar a tempo inteiro por €500. Uma empresa de estudos de mercado pretende contratar um licenciado para fazer cliping de imprensa, pagando €485. Uma empresa pretende dois dentistas, a tempo completo, a ganhar €650. Outra pretende um engenheiro mecânico, que fale inglês, francês e espanhol, oferecendo €700. Uma multinacional subcontrata através de uma empresa de recursos humanos e esta paga €780 a engenheiros informáticos e eletrotécnicos. É destes salários que estamos a falar, dr. Borges? São estes salários que devem ser reduzidos? Então esteja descansado. Dentro de um ano não terá no país quem os aceite. Ou por não ter as qualificações necessárias. Ou porque os que as tiverem não estão a trabalhar em Portugal. É com estas bases que iremos construir o Portugal futuro. Promete.

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