terça-feira, 19 de junho de 2012

CITAÇÕES

Se há coisa que a Grécia nos prova, como escrevi ontem, é que esperar pela coragem dos governantes é um erro. A maioria dos governos, eleitos ou não, responde apenas a um perigo: ao de perder o poder que tem. E nisso, os políticos não são diferentes da maioria das pessoas. O que fez a Nova Democracia grega dar uma volta de 180 graus no que defendia na sua relação com a troika não foi a evidência do descalabro da austeridade. Foi a possibilidade do Syriza vencer as eleições. O que impedirá Hollande de seguir a velha tradição socialista europeia, de, chegada ao poder, se acobardar, será a pressão dos franceses. Sem ela, os governantes tratam de si.

Daniel Oliveira

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A ideia já foi lançada, e não por acaso pelo presidente executivo da AIG, um dos impérios financeiros que esteve na origem da actual crise: os governos devem, montando as costas largas da crise financeira, aumentar a idade da reforma "para os 70, 80 anos". Os cidadãos europeus que se vão, pois, habituando à estimulante ideia de entregar durante 50 ou 60 anos parte dos seus salários ao Estado ou a um grupo financeiro - até onde continuar a ser possível discernir uma coisa da outra - e só começar a receber de volta, em suaves prestações mensais, o resultado desse investimento mediante apresentação da certidão de óbito.

Manuel António Pina

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O que eu gostava mesmo era que a esquerda tivesse ganho na Grécia. A vitória surgiria como um manguito colossal à austeridade. O que eu gostava era ver todas as Merkels da Europa desautorizadas, passadas do miolo a barafustar impropérios e a rezar blasfémias. E a Grécia e o povo da Grécia e o sol da Grécia, tudo na deles, a olhar quase divertidos para o espetáculo da sargenta e da sargentada, a babarem-se de raiva.
Gostava de ver os nazis de focinho no chão, a olhar de esguelha, deprimidos e abatidos, desmascarados, a procurarem uma toca para hibernarem. Gostava de os ver com medo.

Alice Brito

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