Na Europa, ao longo da década do euro, parte das economias que utilizaram esta moeda, a começar pela alemã, tornaram-se extraordinariamente excedentárias, ao mesmo tempo que outra parte, incluindo a Grécia, Portugal, a Espanha e a Itália, se tornaram extraordinariamente deficitárias. Isso aconteceu porque as economias excedentárias desenharam a integração europeia e as suas políticas internas com esse objectivo: abriram a Europa às importações asiáticas, garantindo para aí exportações de alta tecnologia, alargaram a União Europeia a Leste, criando bases manufactureiras de trabalho qualificado e barato. No plano interno, comprimiram os salários e, por fim, criaram o euro. Como resultado, as periferias ficaram cada vez mais desindustrializadas e improdutivas. Estas políticas destruíram e destruirão muita coisa e, seguramente, o Estado Social. Há que derrotá-las!
Carvalho da Silva, JN
A desvalorização do valor do trabalho e do papel social do emprego foi mesmo uma linha de manifestação de coerência pela parte do primeiro-ministro, que, a 11 de Maio, voltou à carga com a declaração de que o desemprego pode ser uma oportunidade de mudança de vida e empreendedorismo, a palavra fetiche do neoliberalismo para desvalorizar o papel social do trabalho e criar em cada pessoa a ilusão de que é um empreendedor, um empresário, um vencedor. Um conceito de vitória social que está igualmente na base da declaração que Passos Coelho fez a 6 de Fevereiro, de que os portugueses tinham de ser "menos "piegas" e "descomplexados", mais abertos, mais competitivos".
Ora, estas declarações são o corolário lógico do pensamento político neoliberal, que vê a sociedade como destinada a assegurar o lucro de alguns privilegiados e em que a liberdade de todos é condicionada ao interesse privado de alguns e não uma sociedade onde a liberdade é regulada em correlação com a igualdade de tratamento de todos e a consequente redistribuição equitativa de riqueza.
São José Almeida, “Público”
O que podemos nós pensar quando, depois de tantos anos a exigir o fim das SCUT, descobrimos que, afinal, o fim das auto-estradas sem portagens ainda iria conseguir sair mais caro ao Estado? Como poderíamos adivinhar que havia uns contratos secretos, escondidos no Tribunal de Contas, em que o Estado garantia aos concessionários das PPP que ganhariam sempre X sem portagens e X+Y com portagens? Mas como poderíamos adivinhá-lo se nos dizem sempre que o Estado tem de recorrer aos serviços de escritórios privados de advocacia (sempre os mesmos), porque, entre os milhares de juristas dos quadros públicos, não há uma meia dúzia que consiga redigir um contrato em que o Estado não seja sempre comido por parvo?
Sousa Tavares, “Expresso”
Sem comentários:
Enviar um comentário