sábado, 16 de junho de 2012

DOMINAR OS MERCADOS

Muita gente, de vários quadrantes políticos, já entendeu que o modelo de sociedade em que vivemos está irremediavelmente falido. É muito provável que alguns queiram mudar qualquer coisa para ficar tudo na mesma mas começam a surgir sinais e movimentações que indiciam que algo de verdadeiramente importante poderá estar para acontecer nos tempos mais próximos. O que não pode continuar é o domínio quase ditatorial dos “mercados” e do capital financeiro que sugam os países, de forma impiedosa, levando milhões de seres humanos ao desemprego, à ruína, à fome e à miséria. Para além da espuma de muitos debates televisivos que só vêm servindo para ir entretendo os cidadãos à volta de questões já gastas, de tão discutidas, há quem comece a preparar o futuro na certeza de que muita coisa terá que mudar. Talvez tudo gire à volta da ideia de dominar os mercados em vez de os sossegar.

O texto seguinte foi transcrito do “Diário de Coimbra” de 14/6/2012 e refere, de forma muito resumida, o que pode estar a começar a preparar-se em termos de futuro. Vale a pena uma leitura atenta.


O Estado SCUT

A estrutura da baliza alemã foi atingida duas vezes, mas imerecidamente intacta ficou, enquanto dentro e fora das quatro linhas, a hegemonia alemã impôs as suas regras.

Pena é que o euro-moeda não seja passível de uma resolução tão rápida como o euro-bola, para o qual um mês é suficiente para se conhecer o resultado final.

Horas antes do início do jogo, eis o anúncio do resgate da banca espanhola, através de uma linha de crédito de €100 mil milhões (10% do PIB), com os juros a serem honrados pelo Estado espanhol, ou seja, pelos contribuintes, apesar de a receita se diferente da “camisa de forças” aplicada à Grécia, Irlanda e Portugal, mas com o mesmo princípio: a recapitalização financeira dos bancos alicerça-se sobre as economias/salários dos cidadãos.

Já pouco resta à Europa para sair do triângulo infernal, sistema financeiro/dívida soberana/catástrofe social, com a consequente perda de direitos democráticos conquistados no século passado. Isto mesmo é reconhecido pelo denominado “Coletivo Roosevelt 2012”, reunindo intelectuais e cidadãos, entre s quais Edgar Morin, Michel Rocard e Stephane Hessel, ao apresentar um conjunto de 15 propostas, sob o lema “Afirmar a urgência e reconstruir a esperança”, para evitar o descalabro democrático e o desemprego, propondo a construção de uma nova sociedade e onde se sublinha que “não se trata de sossegar os mercados, mas de os dominar”, prática que seguiu o então presidente americano, após o desastre financeiro de 1929.

No texto em linha, já subscrito por cerca de 70 mil pessoas, defende-se um boicote aos paraísos fiscais, a luta contra as deslocalizações, a proteção dos precários e limites aos licenciamentos, a interdição dos bancos especularem com o nosso dinheiro e a anulação dos benefícios fiscais concedidos, nos últimos dez anos, às multinacionais e aos mais ricos.

Entretanto, a expectativa é grande (demasiada) para a reunião agendada para o final do mês do Eurogrupo.

Nos corredores de Bruxelas já se fala em uniões, bancária, orçamental e política. Tais decisões, a serem tomadas, podem ser positivas, contudo há uma questão de fundo inalienável: qual modelo em que se baseia e quem as define: comissários, altos funcionários da comissão, consultores privados ou a imensa prole de lobistas que vagueiam pela capital da Europa?

De facto, o tempo urge e, também, por outra razão, que tem a ver com o endividamento colossal dos Estados Unidos. A exposição dos quatro principais bancos americanos aos produtos derivados é impressionante, algo como 231 biliões de dólares (Departamento do Tesouro, USA, 12/2011) e alguns centros de investigação (LEAP) predizem um verdadeiro maremoto, após a previsível reeleição de Obama, no início de Novembro. Além disto, 20% dos estados que integram a federação já se encontram falidos e o denominado “Banco dos Estudantes” que financia os estudos superiores dos que não têm dinheiro para o fazer, apresenta um buraco de um bilião.

Como nota final, permitam-me que faça uma referência à auditoria feita pelo Tribunal de Contas ao modelo de gestão, financiamento e regulação do setor rodoviário – renegociação de seis subconcessões (Relatório 15/2012) e às audições feitas na comissão parlamentar de inquérito à contratualização, renegociação e gestão das parcerias público-privadas, no setor rodo e ferroviário.

Do que vi, li e ouvi – pena é que a RTP não transmita, em direto tais audições, o que seria um serviço público – transparece uma ofensa à dignidade dos cidadãos, a perversão da própria democracia e o conluio entre uma certa elite do regime, de tal forma que, finalmente, compreendi o verdadeiro significado do acrónimo SCUT – sem custos para os ultrajadores. (João Marques, diplomado em Ciências da Comunicação)

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