sexta-feira, 1 de junho de 2012

ANÁLISE À ANTIGA

O texto seguinte constitui uma crítica da acção do sistema capitalista utilizando instrumentos de análise pouco usados actualmente. A permanente existência de um número significativo de desempregados a que Marx chamava “exército de reserva” e que agora já vimos designado por “desemprego natural” é genético no sistema. Nenhum dos seus teóricos alguma vez alvitrou a possibilidade da existência de pleno emprego, mesmo em momentos de funcionamento pleno do capitalismo. Esta é, desde logo, a primeira prova da ineficiência do sistema, geradora de desigualdades e injustiça social. O neoliberalismo actual – forma radical e terrorista do capitalismo – veio potenciar estas situações, dando azo a toda a espécie de abusos numa altura em que o sistema vive à rédea solta, quase sem contrapoder devido à fragilidade em que vivem as forças do trabalho.

Pena é que textos deste tipo não surjam com frequência, para se criar uma consciência crítica sobre o sistema em que se vive, e se partir para a criação de algo que seja realmente útil para toda a humanidade.



DESTA SÓ PARA MELHOR (*)
O desemprego humano é uma das provas da ineficiência do capitalismo e da terrível crueldade com que este gera desperdícios colossais. Peguemos só nos números oficiais de Portugal e vejamos.

Admitamos, por baixo, que cada um dos 800 mil desempregados inscritos produziria por dia em média uns modestos 25 euros. O facto de estarem parados resulta assim num desperdício de produção na ordem dos 20 milhões de euros por dia, a somar à despesa das prestações sociais (subsídio de desemprego, rendimento social de inserção, apoios diversos dados por inúmeras instituições, …) e às perdas a longo prazo por fuga do País, de jovens, desorganização das famílias, aumento dos encargos com a saúde, etc.

Como, em capitalismo, a força de trabalho é tratada enquanto mercadoria, a superabundância o mais quem queira. Assim se vê como é compatível o prejuízo do País com o benefício de alguns. A comprová-lo aí está de novo a Troika a exigir maiores reduções salariais. Mais. Estão as remunerações de 500 e 600 euros oferecidas a jovens licenciados arquitectos e médicos, vindas a lume no programa que ostenta o curioso nome de “Estímulo 2012”.

Multiplicaram-se nos últimos meses os relatos e queixas de trabalhadores por conta de outrem, relacionadas com maus tratos, assédio moral, arbitrariedades, geralmente praticadas por dirigentes e chefes cuja principal competência passou a ser ameaçar e humilhar os subalternos. Estes pequenos déspotas inspiram-se sobretudo no ambiente de medo que o desemprego propicia e na impunidade de que pensam gozar.

Há dias, o Jornal de Negócios, enquanto patrocinador de umas iniciativas chamadas “Hora H”, convidou Jorge Coelho, antigo ministro das obras públicas, hoje director executivo de uma grande empresa de construção e obras públicas. E este terá dito, entre elogios a Cavaco e a Portas, que “se não cuidar do sector da construção, o País vai desta para melhor.”

Certamente, não se terá dado conta da grandeza da verdade que lhe saiu; é que o País só pode mesmo ir desta para melhor. Para tal, basta que os portugueses tomem consciência da irracionalidade do que lhes está a suceder. (Jorge Gouveia Monteiro)


(*) “Diário As Beiras”, 1/6/2012

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