É óbvio que o regresso de Portugal aos mercados financeiros não traz, em si, nada de novo para o povo português, como várias personalidades de matizes políticas diferentes já fizeram questão de salientar. No entanto, tratou-se de um momento especialmente aproveitado pela máquina de propaganda governamental para apregoar loas como se todos os problemas do país estivessem à beira de ficar resolvidos. A doce reacção da cúpula do PS a este acontecimento não é acompanhada, ainda bem, da mesma forma por todos os militantes. Os “socialistas” deveriam denunciá-lo com veemência, como fizeram os outros partidos parlamentares à sua esquerda, para que ficasse bem claro que, infelizmente, não estava em causa nada de especialmente importante para o povo português, tratando-se, apenas, de um facto de carácter secundário muito bem aproveitado pelo poder no sentido de disfarçar o descrédito que vem crescendo junto da população. Apraz-nos registar a forte reacção de um conhecido “socialista” da região centro, dando ao regresso de Portugal aos mercados financeiros a exacta medida que merece, não mais do que isso, e usando até para o efeito um tom algo irónico.
Voo da Galinha (*)
Ainda bem que o regresso de Portugal aos mercados foi um sucesso imenso. Neste momento o meu pensamento está com a Pepa que poderá sorrir de novo, vislumbrando no curto prazo a dita bolsa Chanel preta.
Ridículo! Tão ou mais absurdo que o debate nacional travado em torno da ambição e dos sonhos da jovem lisboeta é o atual entusiasmo político em volta deste regresso dos que não foram. Na realidade, o que mudou ontem na vida dos portugueses? Nada!
Hoje, alguém acordou com mais dinheiro no bolso? Os senhores da troica foram embora? Alguma empresa evitou requerer a insolvência? Reduziram o IVA? Injetaram dinheiro no Serviço Nacional de Saúde? Aumentaram as bolsas no ensino superior? Nada!
Coisa distinta – motivo de gáudio portanto – teria sido o governo anunciar a redução da carga tributária para pessoas e empresas; preparar um programa de estímulos reais à internacionalização das PMEs e outro tanto para a fixação de investimento externo. Enfim, tudo aquilo que pode gerar empregos e riqueza. O resto são abstrações. E já não temos tempo para mais!
Só pode se brincadeira de mau gosto ouvir um ministro alemão comentar que para Portugal agora existe “luz ao fundo do túnel”. O governo de Merkel, que acaba de perder eleições internas, não tem a mínima noção do que se passa em Lisboa, Madrid ou Atenas. Aliás, é exatamente por isso que o Premier Inglês, (outro conservador) veio anunciar que esta Europa não lhe serve e como tal vão referendar a manutenção na mesma. Ou seja, não há uma agenda europeia, antes os egoísmos de uns tantos com os quais, a troco de uns chavos, contemporizámos por duas décadas e meia.
Por tudo isto, esta patética euforia do governo é demasiado superficial, sem sustentação e de vida muito curta, aliás, como o “voo da galinha” na expressão dileta dos analistas económicos.
Dito de outro modo, tonto entusiasmo do governo – que a economia e a vida real não partilham – recorda-me aquela estória da formiguinha que montada no dorso de um enorme elefante comentou: “ena pá, já viste a imensa poeira que estamos a levantar?”.
(*) Ricardo Castanheira, Diário as beiras
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