segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O ESTIGMA DO RSI


O Rendimento Social de Inserção (RSI) é, para muitos, o apoio social mais escrutinado em Portugal. Durante anos foi alvo de uma intensa campanha destinado a desacreditá-lo de forma que a sua eliminação ou redução ao mínimo fosse facilmente aceite pela opinião pública. O auge desta campanha foi atingido já na vigência deste governo, tendo-se tornado um estigma para quem dele “beneficia”. As pessoas que recorrem ao RSI são catalogadas como sendo preguiçosas, pouco amigas de trabalhar, querendo viver à custa de um apoio que não merecem, pago com o dinheiro dos contribuintes. O resultado de tudo isto é que, muita gente com absoluta necessidade, recusa recorrer àquela medida que, apesar de todos os ataques que sofreu ainda abrange mais de 280 mil pessoas.

Em entrevista à agência Lusa, Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas, afirmou que "há muita gente que não quer aceder à medida porque se criou um estigma de tal forma que há pessoas que têm vergonha de dizer que são beneficiários do RSI”.

Contou o caso de uma professora que, depois de trabalhar 18 anos se viu desempregada e, uma vez terminado o subsídio, caiu numa situação de pobreza. “Tive de ir falar com ela para um café porque não queria ir à instituição. Recomendei-lhe que se inscrevesse na Segurança Social para ser beneficiária do RSI, mas ela disse logo que não ia por causa do rótulo que se gerou à volta daquela medida”.

Antes da crise, a pobreza em Portugal situava-se nos 17,9%, “mais de 20% deste total eram trabalhadores por conta de outrem, cujo rendimento não era suficiente para suportar os encargos necessários para a sua sobrevivência”.

“Mesmo assim continuávamos a dizer que era gente que não queria trabalhar, que queria viver à custa dos outros e do erário público”, mas a situação de crise veio mostrar que não é bem assim”. Essa estigmatização atingiu com força o RSI: “Como se percebeu que havia uma camada da população que não olhava bem esta medida, determinadas classes políticas quiseram fazer do RSI uma arma política e no fim acabaram por, em nome do rigor que a medida devia ter, prejudicar aqueles que não falseavam o Estado”. Como se sabe, restrição atrás de restrição, a consequência foi a redução drástica do leque de pessoas que podem aceder à medida com a introdução, em Julho de 2102, das novas regras de atribuição das prestações.

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