Vinha-se notando que os comentadores e proceros do regime andavam ultimamente muito cabisbaixos por não encontrarem ponta por onde pegassem para elogiar o Governo. Finalmente surgiu a fresta de uma janela e eis que todos se precipitam por ela adentro no afã de proclamar aos quatro ventos uma retumbante vitória de Passos-Gaspar-Portas. Não é caso para menos, depois de tão prolongada seca. De qualquer maneira, bem vistas as coisas, o caso não justificaria tamanho foguetório porque o chamado regresso aos mercados, não vai trazer nada de positivo para os portugueses: a austeridade vai crescer, o desemprego vai continuar a aumentar, os apoios sociais vão escassear ainda mais, não há qualquer vislumbre de baixa de impostos, para só referirmos alguns dos exemplos mais significativos para o cidadão comum. Além disso, já se percebeu que o regresso aos mercados financeiros internacionais tem pouco mérito da parte do Governo como se depreende de afirmações de várias entidades. Por outro lado e, como que para refrear os ânimos, os dados da execução orçamental continuam a contrariar praticamente todas as previsões do executivo que não conseguiu atingir o objectivo para o défice orçamental – primeiro 4,5% do PIB, depois 5%.
Sobre execução orçamental e regresso aos mercados recolhemos as seguintes opiniões, nem todas elas de “radicais” e “esquerdistas”:
Apesar dos cortes de dois subsídios a trabalhadores em funções públicas e a pensionistas em 2012, a diferença entre receitas e despesas públicas este ano rondará os 6% do PIB. O facto de a economia estar em recessão, e de terem sido usados recursos públicos para a capitalização da banca, fez com que este ano a dívida aumentasse 10% do PIB para um valor de cerca de 200 mil milhões de euros.
Paul Trigo Pereira, Público
De acordo com os números divulgados na quarta-feira à noite pelo Ministério das Finanças, a cobrança de impostos em Portugal em 2012 ascendeu a 32.025 milhões de euros. O resultado representa um falhanço em praticamente toda a linha da projecção que tinha sido feita pelo Governo em Outubro de 2011, quando, com a troika já a fiscalizar as finanças públicas portuguesas, apontou para uma receita fiscal de 35.159 milhões de euros.
Sérgio Aníbal, Público (edição impressa)[O regresso aos mercados] é bom para a credibilidade da República portuguesa mas não se refletirá em nenhuma melhoria da situação de vida dos portugueses.
Freitas do Amaral, DN
O regresso aos mercados não é resultado do sucesso da política de austeridade e da execução orçamental. Os juros das dívidas soberanas na UE têm estado a descer fortemente desde setembro, isto é, desde que o Banco Central Europeu, contrariando a opinião reiterada do Governo português, decidiu assumir a função de garante dos créditos aos Estados membros.
José Manuel Pureza, DN
É uma operação tanto mais entusiástica e mais gongórica quanto mais fantasiosa. Os benditos mercados sorriem a Portugal, mas os impostos aumentaram este mês cerca de 30 a 40% para muitos dos contribuintes. Os mercados abriram as portas, terminou o sufoco: mas e os salários? Voltam ao que eram? E as pensões? São devolvidas? E o IRS? Vai baixar? E o IVA? Volta atrás? Nada. Nem um cêntimo. Roubado está, roubado fica. Eles estão a dançar no nosso funeral.
Francisco Louçã, Esquerda. net
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