quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

REFLEXÃO OPORTUNA


As pausas proporcionadas pelos dias de festa constituem momentos de reflexão que não devemos desperdiçar já que a vida continua a fluir perante nós e os tempos que correm não nos podem apanhar distraídos. É convicção, nas mais diversas áreas da sociedade portuguesa, que o Orçamento do Estado de 2013 é inexequível e vai aprofundar ainda mais a já extremamente difícil situação social da esmagadora maioria dos portugueses. No entanto, como é possível constatar, o Governo é completamente insensível a todos os apelos para que altere o radicalismo que não se cansa de evidenciar e que vai atingir de forma dramática extensas áreas do nosso depauperado tecido social. O texto seguinte tem cerca de duas semanas de publicação e, ao ser lido deve-se ter esse facto em atenção. Transcrevemo-lo do Diário de Coimbra e constitui uma reflexão e um alerta para a desumanidade com que este Governo está a tratar os portugueses, entre eles os que votaram na maioria PSD/CDS.



Não há Natal com este governo (*)

O tempo leva em silêncio o que muitas vezes foi anunciado com estrondo. O tempo é, também, uma faca silenciosa onde nos descobrimos e inventamos. Damos sentido à vida se encontrarmos na nossa história pequenos gestos que revisitamos nas paisagens de uma viagem interior inesquecível. Nesta quadra cheia de significado e de simbolismo, o encontro com a memória incita-nos a uma reflexão intimista tendo como referências os valores fundamentais da condição humana.

As notícias são devastadoras. Vive-se entre o gume da exaustão fiscal e a inevitabilidade de ir embora para longe da pátria. Numa reportagem de rua, um homem, na idade de reforma, confessava que o filho era obrigado a emigrar. Para trás, deixava três filhos em idade escolar e a angústia de um futuro incerto. Este drama não é um caso isolado. Infelizmente, o país conhece cada vez mais situações semelhantes. O que me choca é o silêncio cúmplice daqueles que tiveram responsabilidades políticas e que agora se limitam a disfarçar a sua existência. Mas, ainda me choca mais a insensibilidade social dos actuais governantes. Falam de sacrifícios como se fossem coisa inócuas, como se não tivessem consequências nas vidas dos portugueses. Há um descaramento que começa a ser insustentável. Estes governantes têm a sina traçada. Ninguém na sociedade portuguesa está satisfeito com o atrevimento das medidas colossais de Passos Coelho. Preferia não falar destes assuntos mas é incontornável. As medidas desumanas que as famílias estão a sentir na pele carecem de uma resposta colectiva. Se Cavaco Silva promulgar o Orçamento de Estado abre a porta à caixa de pandora, onde estão guardadas imprevisíveis consequências. Quando um cidadão não tem nada a perder, a distância entre a fome e a violência é um passo pequeno. A coesão socia deve ser em qualquer sociedade uma preocupação de quem governa. Começa a estar tudo em causa: a segurança social, o serviço nacional de saúde, a justiça, o ensino público, a defesa nacional... Com estes governantes o aís fica mesmo de tanga. Com estes governantes os portugueses têm de ser mais activos, mais participativos, mais determinados. O somos capazes de vencer estas más políticas, ou seremos trucidados pela incompetência que tenta vender a qualquer preço, os activos do país a estrangeiros: a TAP, a EDP e a ANA. Éramos pobres, ficamos ainda mais pobres. É preciso abrir os olhos! Esta é a hora de dizer basta, de voltar á cidadania activa.

Mas os pobres que crescem todos os dias, os que não têm o mínimo para viveram, não podem esperar pela queda do governo. É preciso ajudar, ser solidário, fazer o que se pode, para lhes dar algum conforto. E as crianças, Senhor! Essas precisam de ser poupadas à palavra “crise”. Envolvê-las na ansiedade das famílias não me parece ser uma boa estratégia. Tenho assistido cada vez mais a um número crescente de crianças que fala da crise como se o “Lobo Mau” tivesse mudado de nome. Podemos e devemos proteger as nossas crianças, tentando não lhes transmitir a ansiedade que as famílias vivem neste momento.

Esta quadra natalícia precisa um pouco de magia. E as crianças precisam que os seus familiares se deixem contagiar pelas suas fantasias. Em 2013 estaremos cá para um novo ciclo político e de esperança. Portugal é muito mais que “esta fraca gente” que nos governa.

(*) António Vilhena, escritor

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