É claro para toda a gente que o maior
flagelo que se vive nas sociedades actuais é a falta de emprego.
Invariavelmente, toda a gente diz que é necessário combater o desemprego e que
isso só acontece por via do crescimento económico. Só que, enquanto uns fazem
esta afirmação de forma cínica, sem lhe acrescentarem mais nada, outros,
propõem medidas concretas de aplicação fácil e com resultados relativamente
garantidos. É este o tema de um artigo de opinião (*), com o título acima
transcrito, que copiámos do Diário de Coimbra de ontem (29/9) e que é o espelho
do que pensam muitos economistas sérios desalinhados da doutrina neoliberal.
Todos dizem, na Europa de
turno, que é preciso combater o desemprego. Explorada a questão, nenhum deles
sabe o que fazer. Será esta, talvez, a prova mais eloquente da falência
política dos dirigentes políticos que capturaram o poder.
Esta semana [passada], num
tom inflamado, o improvável Jean-Claude Trichet dizia a uma cadeia de televisão
– por acaso, aquela em que trabalho – que é preciso fazer qualquer coisa para
combater o desemprego. É o problema mais grave da Europa, completou o antigo
presidente do Banco Central Europeu. Nunca tal coisa lhe tinha ouvido, enquanto
presidiu ao BCE. Claro, soluções, nem uma. Pura retórica de conveniência.
Nos últimos meses têm-se
multiplicado as declarações deste tipo. Durão Barroso não se cala com o
assunto, tal como Francois Hollande, David Cameron, Mariano Rajoy e até o
infeliz Passos Coelho balbucia qualquer coisa do género. Quando se lhes
pergunta o que vão fazer para eliminar este flagelo social, invariavelmente,
dizem que o emprego não se cria por decreto. Só com crescimento económico. E se
vier mais uma pergunta, para saber o que estão dispostos a fazer para promover
o crescimento económico, aí, entopem definitivamente. Não têm qualquer solução.
Mas há soluções já provadas.
Em 2007 e 2008, entre o
rebentamento da crise subprime e a falência do Lehman Brothers, as economias
que hoje convencionalmente chamamos de emergentes, adoptaram medidas de defesa
completamente diferentes, das opções norte-americanas e europeias. Tanto na
América como na Europa, a opção foi injectar dinheiro público na banca, para
salvaguardar o sistema. Os desastrosos resultados não demoraram muito: a
indústria e as famílias começaram de imediato a sofrer as consequências, co o
crédito mais caro, as empresas a falirem a uma velocidade de vertigem e o
desemprego a crescer. Com outra agravante, as empresas falidas revelaram-se
irrecuperáveis, como irrecuperáveis se revelaram os postos de trabalho
perdidos. Podem juntar-se ainda os efeitos devastadores que isto teve nas
finanças públicas.
Em países como o Brasil, a Rússia,
a Índia e a China, agora designados de países BRIC, aque se estão a juntar a
África do Sul e Angola, a escolha foi a oposta. Os governos injectaram dinheiro
nas respectivas economias, passando pelos bancos, que nunca tiveram autorização
para a prática de juros usurários. Pelo contrário, as remunerações do crédito
foram sempre limitadas por lei. O resultado foi o rápido crescimento das
economias, com taxas superiores ou muito próximas dos dois dígitos.
Mas há novos problemas nestes
países e o futuro parece não ser um mar de rosas. No Brasil, Dilma Ruseff entendeu
que chegou a hora de acabar com o dinheiro barato para a economia produtiva e
entregou-se aos caprichos da banca. O resultado não podia ser outro. Os juroa
para o refinanciamento dispararam e a economia arrefeceu. Na Rússia, Vladimir Putin,
cedendo a pressões internacionais, também remeteu a economia para os juros do
mercado. As consequências foram desastrosas. Dos 4,3 por cento de crescimento
medidos em 2011, passou para 3,4 no ano seguinte. Para este ano, a taxa
inicialmente prevista de 2,3 já foi revista em baixa, para 1,8 embora o Governo
diga que alimenta expectativas de superar, apenas em décimas, esta previsão. Aqui,
no entanto, há idiossincrasias que distinguem a Rússia do Brasil, como a quebra
na procura energética, por parte da indústria europeia.
Uma quebra preocupante que demonstra
a imparável caminhada da indústria da Europa para o abismo. E, como ninguém
trava este estado de coisas, também ninguém consegue gerar emprego. Pelo contrário,
cria-se cada vez mais desemprego, a um ritmo incontrolável. Esta é a chave do
problema. Ou se salvam, as pessoas, ou se salva a banca desregulada e
especulativa. Não há terceira escolha.
Veja-se a proposta de
orçamento da França, para 2014. Propõe cortes estratosféricos, na despesa
pública, da ordem dos 15 mil milhões de euros. Ao mesmo tempo, prevê um crescimento
na cobrança fiscal de três mil milhões. É claramente um orçamento de retracção.
Apesar disto, nem tudo é
austeridade, na Europa. A crise da irrevogável demissão de Paulo Portas já
custou, em nuros da dívida pública, quase 15 milhões de euros. Mas nem ele
presta contas, nem a oposição lhe pede. Já não é só incompetência. É irresponsabilidade.
(*) Sérgio Borges
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