Nos últimos meses, os
cidadãos de Portimão viram-se confrontados com a presença contínua da sua
cidade nas notícias, o que nunca acontece por bons motivos. A lógica mediática
que destaca sempre o que é mau, sensacional ou polémico em detrimento de tudo o
resto basta para fazer com que se uma terra não sai das parangonas algo de
particularmente mau se passa por lá. E as notícias concretas confirmam esta
lógica: a um endividamento monstruoso da câmara municipal, que afeta também
outras autarquias, veio somar-se a prisão de elementos destacados do executivo
autárquico e do PS local, com episódios rocambolescos de fitofagia à mistura,
acusados de corrupção num processo que parece envolver o maior sorvedouro de
dinheiro que esta cidade já conheceu (uma empresa municipal chamada Portimão
Urbis) e um mirabolante projeto de instalar por cá uma delegação de Bollywood.
É tudo demasiado triste.
Demasiado deprimente. Mas a verdade é que nada aqui é realmente novo.
É que embora nunca nada se
tenha provado, os boatos de corrupção envolvendo os autarcas do PS têm décadas
nesta cidade. Foi em boa medida por causa deles, embora a sua legendária
ausência de um mínimo de sensibilidade urbanística tenha também dado uma boa
ajuda, que Martim Gracias quase perdeu a câmara da última vez que se candidatou
(ganhou por 47 votos apenas). Martim Gracias, o arquitonto que dizia que se as
pessoas queriam espaços verdes que pintassem as casas de verde (e aqui não há
"alegadamentes": o homem disse mesmo esta bojarda), era conhecido na
cidade como o "senhor último andar," porque (alegadamente, aqui sim)
se deixava alegremente corromper, permitindo aos empreiteiros ultrapassarem em
muito os limites de altura dos prédios fixados nos regulamentos em troca dos
andares de cobertura. Além de falcatruas sortidas envolvendo terrenos,
Portimonense, e etc.
Nas eleições seguintes, o
PS, sensatamente, pôs a família Gracias na prateleira e candidatou Nuno
Mergulhão, um homem com imagem de honestidade e que, de facto, marcou uma
diferença importante na forma de gerir a cidade. Em parte, por ser de outra
geração. Em parte, provavelmente, por ser mesmo um homem honesto. Em parte,
talvez, por ter morrido num acidente de viação a meio do mandato, nunca
chegando verdadeiramente a instalar-se.
Foi substituído por Manuel
da Luz, o seu vice. Que, nas eleições seguintes, venceu confortavelmente. E
durante algum tempo as coisas pareceram correr bem. A cidade foi revitalizada,
apesar das obras e dos projetos que eram sucessivamente anunciados com grandes
parangonas mas nunca chegavam a sair do papel (só três exemplos de miragens
aparentemente eternas: uma escola de medicina, um complexo desportivo, uma gare
de camionagem), e a gestão autárquica pareceu razoavelmente mais limpa, embora
nunca tenham deixado de haver histórias sobre terrenos valorizados
artificialmente com este anúncio ou aquele, vendas a preços de favor ou de
desfavor, adjudicações combinadas, etc. É provável que parte destas histórias
seja falsa, pois nunca faltou às pessoas imaginação para ver sombras onde elas
não existem, e a verdade é que a maior parte dos cidadãos sempre as considerou
falsas, e a câmara bem gerida, tanto assim que continuaram a dar a vitória ao
PS. Com a ajuda das festarolas, claro.
Mas agora já não é
possível. Agora, depois de toda a festa ter desabado em cima da autarquia com a
crise financeira internacional a fazer disparar a dívida para valores
impagáveis, muito ajudada pelo regabofe que tem sido a criação e gestão das
empresas municipais, com grande destaque para a Portimão Urbis, depois da
prisão de Luís Carito, o número 2 da autarquia (de quem se dizia, aliás, que
era a verdadeira eminência parda a manusear os cordelinhos que faziam mexer
Manuel da Luz, em especial neste último mandato), chefe do PS local e
deglutidor de papelinhos comprometedores, e da prisão de outro vereador, tudo o
que ficou para trás tem de ser revisto. As histórias, que eram postas de lado
como invenções de inimigos políticos, se calhar até tinham base na realidade.
Se calhar até havia fogo por baixo de todo aquele fumo. E se calhar é sensato
desconfiar de todos os executivos das últimas décadas.
Este ano, o PS candidata Isilda Gomes. Não é uma novata nestas coisas, bem pelo contrário. Vereadora a tempo inteiro durante vários anos, só abandonou a autarquia quando o PS de Sócrates lhe acenou com cargos maiores a nível algarvio. Não há muito tempo, andava aí pelos palcos, lado a lado com Carito, a preparar a sua candidatura. É altamente duvidoso que não soubesse de nada. É altamente duvidoso que a sua lista não esteja contaminada com o polvo corruptor de Portimão. E é altamente duvidoso que represente alguma espécie de rotura com o passado recente, por mais que alegue agora querer "novos rumos". Quem está tão profundamente enredada nos velhos rumos e nas redes de cumplicidade, favores, compadrios, desastre financeiro e, provavelmente, corrupção que esses velhos rumos implicam, não se desenreda assim tão facilmente. Mesmo que queira.
Este ano, o PS candidata Isilda Gomes. Não é uma novata nestas coisas, bem pelo contrário. Vereadora a tempo inteiro durante vários anos, só abandonou a autarquia quando o PS de Sócrates lhe acenou com cargos maiores a nível algarvio. Não há muito tempo, andava aí pelos palcos, lado a lado com Carito, a preparar a sua candidatura. É altamente duvidoso que não soubesse de nada. É altamente duvidoso que a sua lista não esteja contaminada com o polvo corruptor de Portimão. E é altamente duvidoso que represente alguma espécie de rotura com o passado recente, por mais que alegue agora querer "novos rumos". Quem está tão profundamente enredada nos velhos rumos e nas redes de cumplicidade, favores, compadrios, desastre financeiro e, provavelmente, corrupção que esses velhos rumos implicam, não se desenreda assim tão facilmente. Mesmo que queira.
Não, nesta terra o PS não
merece o voto de ninguém.
Há mais quatro candidaturas.
O CDS disfarça-se de candidatura abrangente, numa coligação com dois
micropartidos cuja expressão em Portimão é praticamente igual a zero. Só não
esconde a sigla e o símbolo porque a lei não lho permite; caso contrário, tudo
o indica, esconderia. Da candidatura do PSD, o cor de laranja desapareceu como
que por milagre, substituído por uma mancha verde que quase esconde o símbolo
do partido num cantinho.
E compreende-se. É, só pode
ser, com embaraço que se defende as cores desses partidos.
Mas, desculpem que vos
diga, esse embaraço é mais aparente do que verdadeiro. Alguém imagina que quem
aceita candidatar-se por estes partidos, neste momento, num momento em que quer
PSD, quer CDS, estão reduzidos a pouco mais que bandos mafiosos determinados a
esbulhar o cidadão em prol dos grandes interesses económicos, não concorda com
o que tem sido feito? Alguém imagina que o seu objetivo caso sejam eleitos não
seja, também aqui, assaltar o que é público para transferir recursos para o que
é privado? Alguém julga que não é possível fazer também a nível local o mesmo
tipo de roubo? Alguém pensará realmente que não há num município possibilidade
de desviar fundos como o governo central tem feito com os milhares de milhões
que todos nós temos entregado de mão beijada à banca, ou a esta ou aquela
empresa parasítica através das famigeradas parcerias publico-privadas, ou a
colégios privados por via do inacreditavelmente estúpido cheque-ensino, que tem
prejudicado o sistema educativo de todos os países em que tem sido posto em
prática? Alguém?
Alguém é assim tão anjinho?
Não, nesta terra, e em
todas as outras, PSD e CDS também não merecem o voto de ninguém.
Em Portimão, restam duas
candidaturas, a do PCP e a do BE. São essas as que merecem os vossos votos.
Escolham a que preferirem.
(E sim, só restam
duas candidaturas. Votar branco, votar nulo ou não votar de todo não serve para
mudar absolutamente nada. Quem está insatisfeito, quem quer mudança, vota na
mudança.)
Cá eu, prefiro a do Bloco. Por vários motivos, mas bastaria a atitude do PCP para com a lei de limitação de mandatos para preferir logo a do Bloco. Sou daqueles patetas que não gostam de caciques, nada a fazer. Dos que acham que a eternização no poder cria condições para gerar estruturas de interesse e dependência que destroem a democracia. E que a lei de limitação de mandatos, que uma lei de limitação de mandatos decente, é um passo para impedir que essas estruturas ganhem raízes demasiado profundas. Não o suficiente, provavelmente, mas um passo. E é também por isso que vou votar BE daqui a semana e meia.
Cá eu, prefiro a do Bloco. Por vários motivos, mas bastaria a atitude do PCP para com a lei de limitação de mandatos para preferir logo a do Bloco. Sou daqueles patetas que não gostam de caciques, nada a fazer. Dos que acham que a eternização no poder cria condições para gerar estruturas de interesse e dependência que destroem a democracia. E que a lei de limitação de mandatos, que uma lei de limitação de mandatos decente, é um passo para impedir que essas estruturas ganhem raízes demasiado profundas. Não o suficiente, provavelmente, mas um passo. E é também por isso que vou votar BE daqui a semana e meia.
Jorge
Candeias
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