Os chamados partidos do arco do poder ou
mais propriamente os capatazes da troika em Portugal (PS, PSD e CDS) chegam às
eleições autárquicas sobre brasas porque têm consciência da forma como têm
traído o povo português, em especial, nos últimos anos. Agora, mais que nunca,
pretendem apresentar-se como se não tivessem qualquer responsabilidade na
calamidade que nos atingiu, querendo convencer o eleitor local de que as
eleições autárquicas nada têm a ver com o todo nacional. E têm tudo porque, se
muitos candidatos, hipocritamente fingem agora nada ter a ver com os partidos a
que pertencem, depois de alcandorados à cadeira do poder local, volta tudo ao
mesmo, ou seja, continuarão a dar cobertura a todas as malfeitorias que os
partidos troikanos instalados em S. Bento estejam dispostos a cometer.
Pretendem agora, os partidos que nos têm
governado, chegar às eleições, renascidos e impolutos perante os eleitores e
que, como afirma hoje Manuel Loff no
Público, “pelo menos até à noite das
eleições, não se vota no PSD-governo, mas Menezes ou Seara, ou que não se vota
PS-Seguro-e-ex-Sócrates, mas sim Costa ou Pizarro. No fundo, é como se houvesse
308 partidos socialistas diferentes e 308 partidos social-democratas que se
candidatam às câmaras deste país. Nenhum deles é co-responsável pelo fecho de
escolas, centros de saúde ou maternidades, pela degradação dos serviços
públicos, pelo roubo de salários e de reformas, nada a ver com o desemprego e o
empobrecimento, com o trabalho mal pago, todos eles têm programas fantásticos
para fixar jovens mas não têm nada, nada!, a ver com as políticas que os
empurram para a emigração! No Porto, Menezes, um dos primeiros responsáveis por
termos Passos à frente do PSD e do Governo, pode dizer que quer "livros
escolares gratuitos" e "bolsas de estudo municipais para estudantes
carenciados" e não lhe cai a cara de vergonha. Em Lisboa, Seara promete
casas para "jovens a preço reduzido" e quer uma "cidade
jovem"; mas foram o PSD e o CDS que impuseram a Lei das Rendas e cortam
descontos aos estudantes nos transportes, lhes tiram bolsas de estudo ou lhes
propõem que procurem o seu futuro longe de Portugal! A contradição total pode
até ocorrer só à escala local e entre os que se dizem independentes: Rui
Moreira, no Porto, tem um capítulo inteiro do seu programa sobre
"Solidariedade social", e incluiu nas suas listas vereadores do
executivo Rui Rio que promoveu desabridas campanhas de gosto populista contra
os habitantes de bairros camarários, varrendo-os a todos com a suspeição de tráfico
de droga! Ou, dizendo discordar da política cultural (havia uma?...) de Rio,
chamou para n.º 3 da sua lista a atual vereadora do pelouro da Cultura do
Porto, que não deve saber muito bem o que está lá a fazer... Coerência?
Nenhuma! Mas, veja bem, não é o carisma que interessa?
Passos
e Portas correm o país a promover os seus candidatos. Até domingo, vão-lhe
dizer que não pense no Governo e na troika,
que não é nada disso que está em causa. Mas estes senhores, depois de nos terem
roubado, se terem queimado e renascido das cinzas, querem chegar à noite de
domingo e dizer-lhe a si, à troika
e aos famosos mercados que os portugueses continuam a confiar neles. Depois não
se surpreenda. Nem se queixe”.
Estamos, assim, a poucos dias de o
cidadão eleitor poder mostrar um cartão vermelho aos que se convenceram que são
donos do poder em Portugal. De certo modo assim tem sido mas, com a permissão
do povo, é preciso que não se esqueçam disso. Também é muito importante que não
se esqueçam de que, quando o povo perde a paciência não há marketing eleitoral que
valha a quem quer que seja nem areia que chegue para tapar os olhos às pessoas.
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