A
recente afirmação do ministro da Defesa no sentido de Portugal instituir de
novo o serviço militar obrigatório pode ter sido feita para auscultar as
reacções mas teve a resposta negativa imediata do líder da JS, Ivan Gonçalves
já que nem sequer está previsto no programa do Governo.
Talvez
não tenha sido por acaso – em política nada acontece por acaso – que Azeredo Lopes
tenha trazido à luz do dia semelhante ideia uma vez que, em muitos sectores se
considera um pensamento ultrapassado. Temos toda a legitimidade para acreditar
que este ensejo do ministro da Defesa poderá estar ligado às recentes pressões de
Trump no sentido de Portugal aumentar os seus gastos em armamento, sabendo-se
que os Estados Unidos são o principal exportador de armas a nível mundial…
O
nosso país não está em guerra com ninguém e, além disso, há necessidades
prementes da população portuguesa que nada se coadunam com gastos em óbvias
inutilidades. Por isso mesmo, tem todo o sentido o artigo se opinião seguinte
que transcrevemos do “Público” de hoje, assinado por João André Costa.
O ministro da Defesa, Azeredo Lopes, admite a
possibilidade do retorno do serviço militar obrigatório, o que deixou os meus
cabelos em pé. E ainda bem, sinal de que ainda os tenho. Infelizmente, e
em caso de retorno do serviço militar, não poderei dizer o mesmo.
Nem eu, nem milhares de outros jovens, temerosos da
recruta, quando nos rapam o cabelo todo seguido de um calduço bem aplicado na
nuca, sinal para dar lugar ao próximo mancebo.
Senhor ministro, Portugal não está em guerra e
não quer estar em guerra. As guerras, hoje em dia, não existem, são provocadas
em função dos interesses de terceiros, à custa do sofrimento dos povos, das
mães. Isto num mundo que se quer habituar a resolver os conflitos à volta da
mesa, em diálogo. E já morreu tanta gente... Por isso a crise dos
refugiados, por isso a montanha russa do petróleo, por isso a xenofobia, o medo
e a discriminação de quem é nosso igual.
Porque, senhor ministro, o regresso ao serviço militar
obrigatório nunca terá uma função de defesa, mas de ataque, o
ataque a populações indefesas culpadas de apenas serem quem são, pessoas a
viver no sítio errado à hora errada, e portanto chacinadas, deslocadas,
refugiadas, exiladas.
Pense,
senhor ministro, no 25 de Abril. Sim, houve mortes, mas numa revolução
onde se dispararam mais cravos que balas, por aqui se vê o poder de uma flor,
de um símbolo, na mudança, para melhor, de um país, uma nação inteira.
Aprendamos com o passado de modo a seguir os nossos exemplos, exemplos para
outros povos e outros países.
O
retrocesso ao serviço militar obrigatório não é senão um convite ao armamento,
ao recrudescimento militar em benefício de quem produz, e vende, armas, a
começar pelos Estados Unidos, onde até em casa já querem fabricar material
militar.
Não
sejamos párias com uma cultura de morte. Se o serviço militar chegou ao fim,
por alguma razão o foi: por não ser preciso. Porque o mundo evoluiu, e as
mentalidades evoluíram.
E continuemos a ser o exemplo de um
país onde se viveu uma revolução pacífica. Sim, já agora podíamos ter prendido
o Marcello, mas deixemos esta conversa para outra ocasião.
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