Não
é muito vulgar encontrarmos na comunicação social artigos de opinião que
abordem a temática das alterações climáticas na vertente que hoje o faz no “Público”
Nuno Alvim activista e presidente da Associação Vegetariana Portuguesa.
Na
realidade, “as principais forças motrizes por detrás das alterações climáticas” que frequentemente
são apontadas tendem sempre para o uso dos combustíveis fósseis esquecendo que
há outras práticas não menos prejudiciais para o ambiente.
Nuno Alvim não é o primeiro a apontar a produção
animal como responsável por, pelo menos, 14,5% da emissão global de gases
poluentes com efeito de estufa enquanto “todos
os transportes no mundo são responsáveis por 13% dessa emissão global”. Sendo assim,
quais são os procedimentos aconselháveis por parte dos cidadãos para uma
efectiva contribuição para a alteração desta situação?
O
texto seguinte aponta os caminhos que acha mais aconselháveis.
Nunca antes foi tão urgente repensar o nosso modo de
vivência neste planeta e a nossa relação com o ambiente, que é o nosso suporte
de vida — o de todos os seres vivos e das gerações vindouras.
Torna-se assim cada vez mais pertinente descortinar
quais as principais forças motrizes por detrás das alterações climáticas e
adoptar uma abordagem pragmática e despolitizada, que faça efectivamente
diferença. Será caso para dizer que, se a casa estiver a arder, não vamos
fechar a torneira que deixamos aberta; vamos, sim, procurar apagar o incêndio.
O discurso das alterações climáticas tem sido dominado
ao longo de décadas pelo problema do uso de combustíveis fósseis, cada vez mais
visível, cada vez mais badalado, desde que Al Gore o popularizou no
documentário Verdade Inconveniente. E, de facto, essa é uma problemática
que tem de ser abordada. Construímos o nosso modelo civilizacional na base da
suposição de que o petróleo duraria indefinidamente e numa altura em que não
estávamos plenamente conscientes do impacto sistémico do seu uso, não só
ecológico, mas também na saúde humana.
E
o que pode uma só pessoa fazer para combater este problema? Comprar um carro
eléctrico, ou melhor, andar de bicicleta? Que outras soluções existem para além
destas?
Num
debate saturado com o tópico dos combustíveis fósseis, tem sido deixado de fora
do espectro de discussão ambientalista um outro problema, o que porventura mais
contribui para as alterações climáticas que enfrentamos, negligenciado na sua
importância. Fala-se da indústria agropecuária, cujo impacto no ecossistema
suplanta todas as outras. No entanto, parece que ninguém repara nas vacas a
pastar. Estima-se que a produção de animais seja responsável pela emissão
global de cerca de 14,5% dos gases poluentes de estufa, ao passo que todos os
transportes no mundo são responsáveis por 13% dessa emissão global,
comparativamente. Esta é a estimativa mais conservadora. Outros relatórios
indicam que o valor total das emissões da agropecuária pode alcançar os 51%.
Em Portugal, a Quercus, reconhecida entidade
ambientalista, constatou que a agricultura, inclusive a agropecuária, utiliza
80% dos recursos hídricos de Portugal. Estatísticas semelhantes encontram-se
para outros países do mundo, onde a produção de animais em regime intensivo é
uma das principais responsáveis pelo desgaste dos recursos hídricos e, no
entanto, o nosso foco tem recaído essencialmente sobre os restantes 20%, uma
percentagem marginal, em boa parte correspondendo ao uso doméstico.
Todavia, as campanhas de poupança de água e
preservação dos recursos hídricos focam-se quase exclusivamente no uso
doméstico, sem fazer qualquer referência ao impacto das nossas escolhas como
consumidores. Se tivermos que esvaziar uma banheira cheia de água, não fará
mais sentido tirarmos a tampa em vez de usarmos uma colher de chá?
Tal como sucede com o uso dos combustíveis fósseis,
podemos, na nossa esfera individual, agir de forma relevante, com impacto
político, introduzindo mudanças no nosso paradigma alimentar, começando pela
redução do nosso consumo de carne e de outra proteína animal, privilegiando o
consumo de legumes ou leguminosas. Sabemos que a produção de um único
quilograma de carne de vaca, por exemplo, requer um dispêndio de cerca de
16.700 litros de água, ao passo que a produção de um
quilograma de leguminosas como o feijão de soja requer apenas cerca
de 2500 litros. Em geral, a produção de qualquer alimento de origem vegetal tem
uma pegada ecológica significativamente inferior à da produção de alimentos de
origem animal.
Munidos com
esta informação, podemos tomar decisões simples enquanto consumidores, com
consequências imediatas, que qualquer um de nós pode pôr em prática. Podemos
ser agentes de mudança, através dos nossos pratos.
Sem comentários:
Enviar um comentário