Não é preciso sermos observadores atentos
da causa palestiniana para termos presente que, cada vez menos, a comunicação
social dá voz a representantes daquele martirizado povo alvo de uma tentativa
de genocídio por parte de Israel. Também se têm tornado raras as imagens da agressão
israelita ao povo palestiniano. São factos fáceis de constatar e não uma mera opinião.
Provavelmente, pouca gente sabe que passam
41 anos sobre a data em que as Nações Unidas “anunciaram o dia 29 de Novembro
como sendo o Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestiniano”. A passagem
desta data pelo calendário é pretexto para um artigo de opinião que veio à
estampa no “Público” de há dois dias, assinado por Nibal Abuznaid, Embaixador
da Palestina em Portugal, e que reproduzimos a seguir.
Com a ocupação israelita dos territórios
palestinianos de 1967, surgiu a solidariedade internacional popular com a
Palestina, sendo o seu objectivo acabar com essa mesma ocupação. A 2 de
Dezembro de 1977, este apoio foi oficializado, quando as Nações Unidas
anunciaram o dia 29 de Novembro como sendo o Dia Internacional de Solidariedade
com o Povo Palestiniano.
Desde então até hoje, esta solidariedade ainda não conseguiu acabar
com a ocupação, nem sequer contribuir para a liberdade dos palestinianos ou
mesmo para o prevalecimento da paz. Muito pelo contrário, se olharmos, por
exemplo, para o curto período, desde a última comemoração deste dia no ano
passado até agora, muitos foram os acontecimentos que, infelizmente,
contribuíram para o agravamento da situação.
Um dos acontecimentos mais drásticos foi
quando o Presidente Trump declarou Jerusalém como capital de Israel, mudando a
embaixada norte-americana de Telavive para essa cidade, contradizendo as leis
internacionais e a solução de dois Estados, acordada pela Comunidade
Internacional, que prevê Jerusalém Oriental como capital da Palestina.
Ao longo deste ano,
Trump também decidiu cortar o financiamento da UNRWA, agência das Nações Unidas
que presta apoio médico, social e educativo a mais de cinco milhões de
refugiados palestinianos na Palestina e nos países vizinhos, pondo assim em
risco a vida de muitas famílias.
Estas políticas não contribuíram, em
nada, para o processo de paz; vieram, isso sim, encorajar Israel a continuar
com as suas políticas de ocupação contra os palestinianos e a implementar
outras medidas, tal como a aprovação da Lei do Estado-Nação. Esta Lei considera
Israel um Estado exclusivamente judeu, aumentando assim a discriminação, em
especial contra os árabes com cidadania israelita, sendo de salientar que
muitos israelitas que acreditam na paz recusaram esta lei.
Todas estas políticas
levaram os palestinianos a perderem a esperança na paz e no seu direito de
construir um Estado. Não tiveram alternativa a não ser a recusa desta nova
realidade, demonstrando-a com protestos onde muitas vidas se perderam nas mãos
do exército israelita, como na Grande Marcha do Regresso, em Gaza, onde mais de
220 palestinianos foram mortos durante os pacíficos protestos. Entre as vítimas
desta Marcha houve jornalistas, paramédicos e crianças, que não poderiam, de
maneira nenhuma, representar uma ameaça à segurança de Israel. Ultimamente,
Gaza voltou a incendiar-se. Regressou a violência, a destruição e o
bombardeamento dos dois lados.
A lista de acontecimentos
que feriram a vida do povo palestiniano, apenas no ano que passou, é tão
extensa que não cabe num artigo. Este cenário desolador é uma prova clara
que, infelizmente, esta solidariedade não foi ainda suficiente para salvar vidas
ou para chegar a uma Paz duradoura. Ao longo de todos estes anos de
solidariedade, muitas vidas, nos dois lados, se perderam. Embora o número das
vítimas palestinianas seja muito superior, acreditamos que todas as vidas
humanas são de grande valor.
Ao longo
destes anos, Israel exigiu, continuamente, o seu direito a viver em paz. O que,
para nós, é uma posição legitima a qualquer povo. Logo, deverá incluir também o
povo palestiniano. Acreditamos que a continuação da ocupação, a construção de
muros, a confiscação de terras e o aprisionamento de menores não são, de forma
alguma, caminhos para a paz. Pelo contrário, a ocupação é a forma mais terrível
de terrorismo. Acreditamos também que a segurança só pode prevalecer através do
reconhecimento mútuo e da boa vizinhança. Só assim poderão os israelitas viver
em paz e os palestinianos viver com a dignidade que lhes é devida na sua terra
e no seu Estado Palestiniano, com Jerusalém Oriental como capital.
Apesar de todo este sofrimento, acreditamos que todos os
conflitos têm, por mais que durem, um fim. Os conflitos e a paz começam e
terminam nas mãos de seres humanos, o conflito palestiniano-israelita não será
excepção. A grande diferença nos dois lados desta equação é que a guerra é
iniciada pelos cobardes e a paz pelos corajosos. Por isso, não perderemos a
esperança e o sonho de, nesta mesma data, no próximo ano, poder celebrar uma
paz capaz de dar um futuro melhor às crianças de ambas as partes.
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