A
falta de verticalidade que Paulo Portas evidenciou ao longo da sua vida
política não impediu que atingisse alguns dos seus objectivos. Ainda agora,
esta ideia pode continuar a ser verdadeira no seu papel de comentador da TVI,
um canal televisivo que atinge toda a audiência nacional, não nos esqueçamos
disso. A sua ausência de rectidão enquanto actor político não o impede de idealizar,
por exemplo, uma futura candidatura à presidência da república, uma vez que
actualmente se encontra no palco ideal para concretizar essa aspiração.
Embora
em Portugal, as forças democráticas continuem em posição favorável no panorama
político, a verdade é que por todo o mundo os tempos parecem estar mais favoráveis
a soluções governativas de extrema-direita cujo último exemplo nos chegou do Brasil
ainda há menos de uma semana, para não falarmos do governo norte-americano. Por
isso mesmo, tem todo o sentido, que, quanto antes, Paulo Portas vá preparando o
tapete mais propício para atingir as suas ambições políticas…
Nem
toda a gente raciocinará deste modo como se pode verificar pelo seguinte artigo
de opinião que transcrevemos do “Público” de ontem, assinado pelo advogado
Domingos Lopes, a propósito de Portas não vislumbrar na conduta de Bolsonaro o
que quer que seja de eticamente reprovável.
A verticalidade capaz de suportar uma vida coerente é
um dos valores mais elevados na vida social, mesmo que o não pareça.
Uma das razões pelas quais os cidadãos deixaram de
acreditar nas instituições e inclinaram-se para saídas populistas de extrema
direita reside nas mil e promessas que os políticos que governam anunciam e
nunca cumprem.
Um dos expoentes máximos da ausência de um pingo de
verticalidade ao longo da sua vida política é Paulo Portas. Enquanto político
foi um manobrador e manipulador que se poderia designar como o maior balseiro
do reino.
Talvez, por isso, depois destes anos a balsar tenha
sido chamado agora para comentador na TVI, dado que sua exemplar vida de
político sério impunha que não ficasse submergido em águas profundas e não
pudesse ser visto a perorar como só ele sabe, sem o respetivo periscópio.
Paulo Portas desde os tempos de diretor do Independente
até hoje travestiu-se de tudo no que se refere a direita portuguesa.
Passou
os seus dias a atacar e a incensar Cavaco; a propor e a rasgar acordos com o
PSD incluindo com Marcelo Rebelo de Sousa; a frequentar feiras, a beber copos
com os velhinhos e a propor aumentos das reformas e a cortá-las no governo.
A
tudo habituou os portugueses. Só que apesar disso poderia haver quem pensasse
que ele, nesta fase, fosse mais comedido.
Só
que nem sempre se consegue disfarçar o que se tem na alma e Portas, apesar do
seu maquiavelismo, deixou-se levar na sua ternura por Bolsonaro e não vê na
conduta da personagem nada de eticamente reprovável. Trata-se de um capitão de
umas Forças Armadas nacionalistas. Sem mais. Que enlevo! Que admiração!
Portas
não vê nada de eticamente reprovável quando Bolsonaro afirma que não é com
eleições que se resolve o problema do Brasil, mas sim com 30.000 mortes… Nem
quando acha que os pobres devem ser esterilizados… Nem quando afirmou que o mal
da ditadura foi torturar em vez de matar… Nem quando incitou ao ódio contra os
vermelhos… Nem quando o seu filho considerava que um cabo seria o suficiente
para encerrar o Supremo Tribunal de Justiça…Nem quando defende que os
brasileiros devem ter acesso livremente às armas…
É
verdade, o enlevo de Portas pela personagem cega-o e fá-lo perder a capacidade
que todos lhe reconhecem de disfarçar.
Portas
deixou cair a máscara. Um cidadão que nada tem de eticamente censurável só pode
merecer elogios; foi a mensagem do admirador.
Portas
como Bolsonaro invocam muitas vezes a sua fé e Deus. Só que nunca explicaram
como se pode invocar o nome de Deus para fazer política? A isso chama-se
invocar o nome de Deus em vão, violação do segundo mandamento.
Além
de que no caso de Bolsonaro é mais grave porque entende que Deus está acima de
tudo e todos, mas sem dizer qual é o seu Deus, dado que cada um tem o seu Deus
e no Brasil tão vasto e diversificado nem todos têm o mesmo Deus, pois há
Deuses muitos diferentes no culto dos brasileiros.
Portas
desconhece por completo o catecismo da Igreja Católica ou então comporta-se
como um filisteu. Fica-lhe o elogio da folha limpa do seu capitão admirador da
tortura e da esterilização dos pobres.
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