domingo, 7 de junho de 2015

ASFIXIAR O SNS (3)


Na conclusão da abordagem da asfixia do SNS que temos vindo a realizar a partir de um artigo de opinião (*) que encontrámos no Diário de Coimbra do passado dia 3/6/2015, referimos hoje o aumento significativo dos gastos das famílias com a saúde. Este é talvez um assunto de fácil compreensão para a generalidade da população porque todos nós já sentimos o aumento do custo dos medicamentos, por via da menor comparticipação do Estado, quando vamos a uma farmácia aviar uma receita. Também é do conhecimento geral que um cada vez maior número de pessoas não compra todos os medicamentos prescritos pelo médico porque não tem dinheiro para os pagar. É uma realidade que urge denunciar perante a maldosa propaganda do Governo que se faz sentir nesta como em muitas outras áreas.
A despesa global com cuidados médicos diminuiu acentuadamente em Portugal, de tal forma que a percentagem que representa no Produto Interno Bruto (PIB) baixou para 9,5% em 2012, recuando para níveis inferiores aos de 2005. Esta descida obrigou as famílias a gastarem mais dos seus bolsos com a saúde, significando uma das maiores subidas (4,7%) a nível europeu, o que representa quase o dobro da média da União Europeia (2,9%). Muitos doentes começaram a faltar às consultas e não realizavam os exames que o médico tinha pedido, outros chegavam às farmácias e não tinham dinheiro para comprar todos os medicamentos que constavam nas receitas (16% dos portugueses deixaram de comprar medicamentos por falta de dinheiro – estudo recente da Universidade Nova) e muitos outros foram obrigados a interromper a medicação porque já deviam muito dinheiro nas farmácias. Os “cortes brutais” nos salários, nas pensões, famílias desempregadas, criaram uma situação social gravíssima em Portugal, tendo o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgado recentemente dados que comprovam um aumento preocupante da pobreza, entre 2011 e 2013 mais de 450 mil pessoas caíram na situação de pobreza! Uma situação destas exigia um SNS a funcionar em pleno para dar respostas eficazes a situações de grande debilidade social, mas não, este governo fez o contrário – fragilizou o SNS ao ponto de se temer o seu colapso como António Arnaut alertou recentemente.
Nota: Com as eleições à porta (4 meses) o Ministério da Saúde acordou sobressaltado e agora promete tudo: mais contratos com médicos, com enfermeiros, com técnicos, com administrativos, mais Unidades de Saúde Familiar, mais cuidados continuados, mais camas disponíveis, mais cirurgias, mais medicamentos, mais centros de saúde a funcionar, mais tudo!!! Para além do ridículo, ninguém pode levar a sério estas fantasias eleitoralistas.
(*) João Rui Gaspar de Almeida, Presidente da Delegação da Fundação Portuguesa do Pulmão

Sem comentários:

Enviar um comentário