O
texto seguinte (*), claramente inserido no contexto de campanha eleitoral em que já
vivemos aborda o “pecado da omissão” em duas vertentes: 1) A dos “actores políticos”
que procuram muitas vezes omitir parte das suas intenções programáticas quanto
ao que pretendem levar a cabo caso sejam eleitos, receando com isso perder
votos e 2) A dos eleitores que, “abstendo-se de participar na vida cívica e nos
atos eleitorais” acabam por se penalizar a si próprios, permitindo que
personalidades sem o mínimo de qualidade vão ocupar cargos de governação.
Estamos
perante um texto muito interessante e de fácil leitura.
No
tempo de tanta fala apetece acompanhar Talleyrand na afirmação de que “A
palavra foi dada ao homem para disfarçar o próprio pensamento”. Com efeito
ouvem-se permanentemente coisas extraordinárias a respeito de tudo, particularmente
no contexto das disputas partidárias que antecedem as eleições, que não se pode
deixar de desconfiar de que muito do que se diz se pretende disfarçar o que se
pensa.
Mas,
mais interessante ainda é, neste momento de intenso falatório, estar atento ao
que não se diz, porque é aí que se escreve parte da história do futuro. Na verdade
os atores políticos revelam muito do seu mérito na habilidade com que omitem as
suas intenções deixando nos seus programas eleitorais buracos programáticos dignos
de um verdadeiro queijo suíço, camuflados, normalmente, por longas e gongóricas
divagações político/filosóficas.
Diga-se,
contudo, que por vezes há surpresas como aquela com que o primeiro-ministro
recentemente nos brindou, quando afirmou que no programa eleitoral que irá
subscrever não constará qualquer proposta relativa à segurança social. Ora,
esta omissão deliberada e declarada, numa das matérias mais importantes num
programa de governo para o próximo mandato, por parte de uma aliança partidária
que é governo e que pretende continuar a sê-lo, não pode deixar de ter uma
leitura condenatória dado que ninguém acredita que não haja por ali ideias
sobre a matéria.
O
que esta decisão obviamente revela é o medo de um elevado custo eleitoral por
parte de alguém que um dia se vestiu de estadista e que garantiu em voz alta
que se estava marimbando para eleições. A pouco e pouco e agora decididamente,
o estadista acidental eclipsou-se.
Mas
a omissão não se circunscreve a um único pecador. É, como sempre foi, uma parte
significativa do jogo político em que também os eleitores entram cada vez mais,
abstendo-se de participar na vida cívica e nos atos eleitorais, com a agravante
de que acabam por ser eles os mais penalizados. Aliás, para alguns políticos a omissão
dos eleitores é a sua sorte grande porque só por essa razão acabam por existir.
Sendo
a omissão um pecado, em termos religiosos, é também um ato profundamente
censurável em termos políticos que dá origem, regra geral, a muito do penar
quotidiano com que nos confrontamos.
Dizia
o Padre António Vieira da Companhia de Jesus e pregador de S. Majestade, num
dos seus sermões que a: “Omissão é um pecado que se faz não fazendo”.
Ora
assim sendo será melhor não pecarmos fazendo qualquer coisa, nomeadamente
penalizando os omissos que tantas vezes nos estragam os sonhos e nos envenenam
a esperança.
(*) João
Silva, Diário de Coimbra
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