O
povo grego, farto de ser enganado por sucessivos governos avalizados pelo
neoliberalismo, resolveu que era hora de mudar e dizer “não” a mais do mesmo. Foi,
digamos, um acto de coragem mas, ao mesmo tempo de confiança na democracia. Era
suposto que o voto popular, em eleições livres e transparentes, fosse
respeitado. No entanto, “o mundo dos poderosos” mostrando a sua verdadeira face,
que não tem nada a ver com democracia, não está pelos ajustes, uma vez que estão
em causa os seus interesses mais mesquinhos. A partir daí, um pequeno país que
se dispôs a enfrentar o gigante neoliberal tornou-se o alvo a abater pela
ousadia que demonstrou e para servir de exemplo para outros que possam ter a
mesma veleidade no futuro.
Todas
as manobras da mais baixa política passaram a ser usadas para desacreditar e
destruir o Governo grego. E aqui, a desproporção de meios é abissal, uma vez
que o sistema dominante controla toda a comunicação social, difundindo notícias
maliciosas sobre o povo grego e a coligação Syriza que domina o Governo.
O
papel dos amantes da democracia e do cumprimento rigoroso das suas regras é,
nesta altura, difundir a realidade da situação grega. Nesta linha, eis, então,
um pequeno texto de Nicolau Santos que transcrevemos do Expresso Economia de
ontem.
O mundo dos poderosos uniu-se
contra o governo do Syriza. Porque o Syriza ousou desafiar o statu quo, e isso
é perigoso. Não há razões para continuar a pedir mais a um país, e cito Martin
Wolf, em que o PIB real caiu 27%, em que o saldo orçamental melhorou em 20% e o
da conta corrente em 16%, em que o emprego público caiu 30%. Um país que cortou
20% nas reformas mais baixas e até 48% nas mais altas; que subiu o IVA de 20%
para 23%; que reduziu o défice de 15,6% para 3,5%. É a este país que se exige
saldo primário de 1% do PIB em 2015 e 2% a 3,5% nos anos seguintes, apesar de
se saber que dos 28 países da UE há 14 que nunca tiveram qualquer excedente
acima de 3,5% nas últimas duas décadas. Não, não há qualquer razoabilidade
naquilo que se continua a exigir a Atenas. O que se pretende é a capitulação e
a cabeça de Alexis Tsipras numa bandeja. Mas desconfio que as palavras duras de
Wiofgang Schauble, Christine Lagarde e Jeoren Dijsselbloem valem menos que o
silêncio de ouro de Angela Merkel. E é ela que no Conselho Europeu de
segunda-feira ditará o futuro da Grécia.
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