O
texto que apresentamos a seguir (*) constitui, nem mais nem menos, uma história
de vida, consequência da austeridade criminosa que se abateu sobre os
portugueses desde a segunda metade da década passada. Todos nós conhecemos casos
parecidíssimos com o que aqui é relatado e talvez não conheçamos mais porque
muitos se encontram ainda camuflados, sabe-se lá porquê.
A
máquina da propaganda da maioria de direita, que inclui um desavergonhado de
nome Cavaco Silva, vai massacrar-nos até às eleições com a mensagem de que já
não precisamos fazer mais sacrifícios e que o paraíso se encontra ao virar da
esquina caso a coligação PSD/CDS ganhe as eleições. Se tal acontecer será quase
uma catástrofe para os portugueses porque mais austeridade nos espera logo a
seguir. Já temos experiencia quanto baste para sabermos que as promessas de
agora são para deitar no lixo logo a seguir à contagem dos votos. Os cortes na
Segurança Social de que falou a ministra das Finanças – fugiu-lhe a boca para a
verdade – constituem uma amostra do que nos espera, ainda que a senhora se
tenha entretanto calado por ordem do resto do Governo que quer encobrir a
verdade a todo o custo.
Cabe
a todos nós estarmos atentos e através do nosso voto darmos força política a
gente séria que possa impedir a implementação de mais políticas catastróficas,
venham elas da direita ou do PS, como aquelas que nos atingiram nos últimos
anos.
O
governo continua a querer impor mais cortes nas pensões. O pretexto é o da
sustentabilidade da Segurança Social. A ministra das Finanças, Maria Luís
Albuquerque, numa reunião com os jovens do PSD, falou numa redução das pensões
em 600 milhões de euros para sustentabilidade da Segurança Social.
Cortes
de 600 milhões, já para depois das eleições, para 2016
Um
aviso para não esquecer.
Se
conseguirem impor estes cortes, outros chegarão a seguir, porque a Segurança
Social continuará a definhar com as políticas seguidas e sem vontade de outras
medidas.
Já
noutros tempos assistimos a discussões sobre o mesmo assunto, e também com o
mesmo pretexto, o de garantir a sustentabilidade da Segurança Social, a mesma
razão agora mais uma vez invocada.
Sempre
os mesmos a pagar. Sempre os mesmos a serem sacrificados.
Insensibilidade
para com as pessoas, para com as famílias.
E
na vida das pessoas há situações como esta:
É
um amigo de há muitos anos. Acompanhei o seu percurso de vida, a sua dedicação ao
trabalho, a sua competência profissional.
Começou
a trabalhar muito cedo, logo depois da escola. Naquele tempo, só a 4ª classe. Ninguém
falava em trabalho infantil. Cresceu na vida com enormes sacrifícios. Nunca lhe
conheci vida acima das suas possibilidades, como tantas vezes se insinua para
justificar a aisteridade.
Criou
os filhos e levou os filhos à universidade.
Cursos
acabados, o mais velho começou com vida de futuro. Fez família. Emprego seguro.
Ordenado seguro. Trabalho com direitos.
Numa
empresa com reputação, mas a empresa deslocalizou-se para outras bandas onde se
pratica trabalho competitivo, quer dizer, trabalho mal pago e sem direitos. Muito
competitivo!
Desempregado,
andou por cursos de formação, para enganar o desemprego, para cegar as
estatísticas. A universidade para nada lhe serviu. Os formadores sabiam tanto
ou menos que o formando.
Aceita
trabalhos diversificados e onde houver, sempre precários. Concorre a tudo. Grandes
viagens antes e depois do trabalho, com despesas de portagens. Muitas horas de
estrada e muitas horas de trabalho, quando há que fazer. Ordenado, quando há
dinheiro. Entregou a casa ao banco. Pagava a prestações. O dinheiro não chegava
para a prestação.
O
dinheiro não chegava. Dificuldades em casa, discussões em família. Tudo acabado.
Um para cada lado. Voltou para a casa dos pais, com os filhos em idade escolar.
Pais
reformados, pensionistas. As pensões dos velhotes esticadas até aos netos. Mágoas,
frustrações silenciosas, escondidas dos vizinhos. Os amigos mais próximos conhecem
e interpretam revoltas. Vontade de emigrar. E os filhos!...
Não
é um caso isolado nem passageiro. Nem único. Andam por aí muitos, escondidos.
Os
velhotes já procuraram lar onde repousar de uma vida de trabalhos. A casa é
pequena para o filho que voltou e para os netos. Mas não há pensão para pagar
os serviços do lar.
Mas
agora dizem que há uma circular da Segurança Social que leva as despesas de lar
aos familiares na “linha reta e na colateral, até ao 3º grau”. Está na
circular.
Mas
os familiares estão na mesma situação, desempregados ou precários. E mesmo que não
estivessem. Terão disposição e sentem o dever de acudir?
As
famílias estão desfeitas.
Também
nas casas dos vizinhos, as pensões dos pais são agora para acudir aos filhos
sem emprego. Ou com trabalho precário e com horários sem tempo para os filhos.
À
nossa volta há muitos casos assim.
A
vida das pessoas, das famílias, está nos limites. Dizem que as coisas já estão a
melhorar, mas ninguém vê.
Os
governantes não respeitam direitos das pessoas. Gostam de dar esmolas, de fazer
caridade, nem que seja com o dinheiro dos outros, recorrendo a um conceito de
família alargado ao 3º grau, e até em linha colateral ao 3º grau, que ninguém conhece.
Do
Ministério das Finanças vem a informação da evolução e do contributo da Segurança
Social cujo excedente cresceu 516,7 milhões de euros, em resultado da subida
das receitas com contribuições e da queda da despesa com subsídios de desemprego.
Dá
para entender?
Da
ministra das Finanças: Cortes de 600 milhões nas pensões.
Para
não esquecer!...
(*) Manuel
Miranda, Diário de Coimbra
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