terça-feira, 16 de junho de 2015

UMA HISTÓRIA DE VIDA EM 2015


O texto que apresentamos a seguir (*) constitui, nem mais nem menos, uma história de vida, consequência da austeridade criminosa que se abateu sobre os portugueses desde a segunda metade da década passada. Todos nós conhecemos casos parecidíssimos com o que aqui é relatado e talvez não conheçamos mais porque muitos se encontram ainda camuflados, sabe-se lá porquê.
A máquina da propaganda da maioria de direita, que inclui um desavergonhado de nome Cavaco Silva, vai massacrar-nos até às eleições com a mensagem de que já não precisamos fazer mais sacrifícios e que o paraíso se encontra ao virar da esquina caso a coligação PSD/CDS ganhe as eleições. Se tal acontecer será quase uma catástrofe para os portugueses porque mais austeridade nos espera logo a seguir. Já temos experiencia quanto baste para sabermos que as promessas de agora são para deitar no lixo logo a seguir à contagem dos votos. Os cortes na Segurança Social de que falou a ministra das Finanças – fugiu-lhe a boca para a verdade – constituem uma amostra do que nos espera, ainda que a senhora se tenha entretanto calado por ordem do resto do Governo que quer encobrir a verdade a todo o custo.
Cabe a todos nós estarmos atentos e através do nosso voto darmos força política a gente séria que possa impedir a implementação de mais políticas catastróficas, venham elas da direita ou do PS, como aquelas que nos atingiram nos últimos anos.
O governo continua a querer impor mais cortes nas pensões. O pretexto é o da sustentabilidade da Segurança Social. A ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, numa reunião com os jovens do PSD, falou numa redução das pensões em 600 milhões de euros para sustentabilidade da Segurança Social.
Cortes de 600 milhões, já para depois das eleições, para 2016
Um aviso para não esquecer.
Se conseguirem impor estes cortes, outros chegarão a seguir, porque a Segurança Social continuará a definhar com as políticas seguidas e sem vontade de outras medidas.
Já noutros tempos assistimos a discussões sobre o mesmo assunto, e também com o mesmo pretexto, o de garantir a sustentabilidade da Segurança Social, a mesma razão agora mais uma vez invocada.
Sempre os mesmos a pagar. Sempre os mesmos a serem sacrificados.
Insensibilidade para com as pessoas, para com as famílias.
E na vida das pessoas há situações como esta:
É um amigo de há muitos anos. Acompanhei o seu percurso de vida, a sua dedicação ao trabalho, a sua competência profissional.
Começou a trabalhar muito cedo, logo depois da escola. Naquele tempo, só a 4ª classe. Ninguém falava em trabalho infantil. Cresceu na vida com enormes sacrifícios. Nunca lhe conheci vida acima das suas possibilidades, como tantas vezes se insinua para justificar a aisteridade.
Criou os filhos e levou os filhos à universidade.
Cursos acabados, o mais velho começou com vida de futuro. Fez família. Emprego seguro. Ordenado seguro. Trabalho com direitos.
Numa empresa com reputação, mas a empresa deslocalizou-se para outras bandas onde se pratica trabalho competitivo, quer dizer, trabalho mal pago e sem direitos. Muito competitivo!
Desempregado, andou por cursos de formação, para enganar o desemprego, para cegar as estatísticas. A universidade para nada lhe serviu. Os formadores sabiam tanto ou menos que o formando.
Aceita trabalhos diversificados e onde houver, sempre precários. Concorre a tudo. Grandes viagens antes e depois do trabalho, com despesas de portagens. Muitas horas de estrada e muitas horas de trabalho, quando há que fazer. Ordenado, quando há dinheiro. Entregou a casa ao banco. Pagava a prestações. O dinheiro não chegava para a prestação.
O dinheiro não chegava. Dificuldades em casa, discussões em família. Tudo acabado. Um para cada lado. Voltou para a casa dos pais, com os filhos em idade escolar.
Pais reformados, pensionistas. As pensões dos velhotes esticadas até aos netos. Mágoas, frustrações silenciosas, escondidas dos vizinhos. Os amigos mais próximos conhecem e interpretam revoltas. Vontade de emigrar. E os filhos!...
Não é um caso isolado nem passageiro. Nem único. Andam por aí muitos, escondidos.
Os velhotes já procuraram lar onde repousar de uma vida de trabalhos. A casa é pequena para o filho que voltou e para os netos. Mas não há pensão para pagar os serviços do lar.
Mas agora dizem que há uma circular da Segurança Social que leva as despesas de lar aos familiares na “linha reta e na colateral, até ao 3º grau”. Está na circular.
Mas os familiares estão na mesma situação, desempregados ou precários. E mesmo que não estivessem. Terão disposição e sentem o dever de acudir?
As famílias estão desfeitas.
Também nas casas dos vizinhos, as pensões dos pais são agora para acudir aos filhos sem emprego. Ou com trabalho precário e com horários sem tempo para os filhos.
À nossa volta há muitos casos assim.
A vida das pessoas, das famílias, está nos limites. Dizem que as coisas já estão a melhorar, mas ninguém vê.
Os governantes não respeitam direitos das pessoas. Gostam de dar esmolas, de fazer caridade, nem que seja com o dinheiro dos outros, recorrendo a um conceito de família alargado ao 3º grau, e até em linha colateral ao 3º grau, que ninguém conhece.
Do Ministério das Finanças vem a informação da evolução e do contributo da Segurança Social cujo excedente cresceu 516,7 milhões de euros, em resultado da subida das receitas com contribuições e da queda da despesa com subsídios de desemprego.
Dá para entender?
Da ministra das Finanças: Cortes de 600 milhões nas pensões.
Para não esquecer!...
(*) Manuel Miranda, Diário de Coimbra

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