É
dos livros que uma acentuada desigualdade na distribuição da riqueza constitui
uma bomba social ao retardador que, quando explode, atinge culpados e
inocentes, numa imparável voragem destruidora. As medidas de austeridade
implementadas e defendidas em Portugal por adeptos troicanos (leia-se PS, PSD, CDS
e Cavaco Silva), com cortes significativos em salários, pensões e direitos sociais,
têm levado “ao empobrecimento de grande parte da população e ao enfraquecimento
do Estado Social”, tendo como consequência a degradação das condições de vida e
a desigualdade social.
Partindo
de um discurso de Hillary Clinton, cheio de aparentes boas intenções sociais,
completamente inexequíveis no seu país, a autora do texto seguinte (*) aborda
no Público a actual situação portuguesa no que diz respeito ao actual aprofundamento
das desigualdades sociais.
No
passado dia 13 de junho, em Nova Iorque, Hillary Clinton - a candidata
democrata à eleição presidencial norte-americana de 2016 - realizou o seu
primeiro grande discurso, onde considerou indispensável uma resposta ao
problema crescente das desigualdades sociais.
Lembrando
que "a prosperidade verdadeira e duradoura deve ser construída por todos e
partilhada por todos", e que o êxito colectivo dos americanos depende do
sucesso de cada cidadão, enfatizou que é necessário reafirmar que "todos
precisam de uma oportunidade." E recordou que se as empresas fazem lucros
recordes, remunerando generosamente os seus CEOs, a maioria dos trabalhadores
vê-se forçada a assegurar vários empregos para sobreviver.
Apelando
a uma sociedade mais coesa, Hillary insistiu que é necessário pugnar por “uma
economia com e para todos”, de modo a que ninguém fique excluído.
E,
colocando como central na sua campanha as preocupações sociais, realçou ainda
que a prosperidade deve beneficiar todos e que o seu objetivo político
prioritário é fazer crescer a economia norte-americana mas tornando-a mais
justa, sendo isso será possível mediante um estímulo ao investimento em
infraestruturas e em investigação, assim como um aumento do salário mínimo.
Ora
porque na Europa talvez o problema maior seja convencer os europeus que a União
Europeia ainda serve todos e não apenas alguns, preocupando-se com a dimensão
social, não deixa de ser inquietante atentar nos efeitos sociais mais visíveis
das medidas de austeridade adoptadas em países como a Grécia, Portugal e
Espanha e o aumento das situações de risco de pobreza ou exclusão social que
resultam – tal como o reconhece o relatório “Proteção Social no Mundo
2014/2015” da OIT – não apenas da “recessão global” mas também do desemprego
persistente, dos salários baixos e dos impostos mais altos.
O
que se verifica é que em países como, por exemplo, Portugal a economia está a
tornar-se profundamente desigual. Recorde-se que o nosso país está entre os
países mais desiguais e com maiores níveis de pobreza consolidada da OCDE e o
aumento de riqueza não segue acompanhado de equidade, assistindo-se ao
empobrecimento de grande parte da população e ao enfraquecimento do Estado
Social, pilar fundamental de protecção dos mais desfavorecidos. E quando vemos
a trajectória circular em que se encontra a economia portuguesa e a tendência
para baixar salários, assim como o aumento da segmentação do mercado de
trabalho, das desigualdades e da pobreza, similarmente no nosso país a questão
que se coloca será a de pugnar com premência por mais justiça social,
sabendo-se que não existe desequilíbrio mais grave e ameaçador para a sociedade
do que níveis de desigualdade elevados.
(*) Glória Rebelo, Professora universitária e investigadora
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