No artigo de opinião que assina hoje no
Público, o Prof. Santana Castilho assume um tom muito crítico relativamente às
propostas de PS para a área da Educação e sugere ele próprio uma série de
“medidas concretas” que o programa de Governo de António Costa deveria conter.
Para esse efeito imagina uma carta do líder “socialista” aos eleitores, nos
termos a seguir descritos
Ora na carta que não escreveu, António Costa
poderia ter dito que, se queremos mudar Portugal, temos que dar atenção à
Educação e alterar-lhe o rumo, com as seguintes medidas concretas, que poderia
ter decidido acrescentar ao seu programa:
-
Alterar o modelo de gestão das escolas, entregando a professores eleitos por
professores a responsabilidade efectiva de as gerir, devolvendo-lhes a democraticidade
perdida e conferindo-lhes ampla autonomia.
-
Recuperar a figura tradicional de escola como unidade orgânica, com gestão
própria, de modo a devolver às escolas a identidade que os agrupamentos lhes
retiraram.
-
Conferir aos quadros de pessoal das escolas a dimensão adequada às suas
necessidades permanentes.
-
Permitir que as escolas com problemas ensaiem turmas reduzidas e tenham dois
professores por turma, em situações específicas.
-
Retomar a universalização das aulas com 50 minutos de duração.
-
Reorganizar e aumentar as respostas a crianças com necessidades educativas
especiais ou oriundas de minorias étnicas, religiosas e culturais.
-
Substituir o estatuto do aluno, de carácter nacional, por simples códigos de
conduta, construídos dentro de cada escola.
-
Despojar o processo disciplinar escolar das garantias que hoje tem, similares
às do processo penal, conferindo-lhe carácter sumário, de natureza pedagógica,
com medidas definitivas e executórias da responsabilidade exclusiva dos órgãos
pedagógicos da escola.
-
Conferir aos professores estatuto de autoridade pública, com todas as
consequências legais.
-
Criar serviços de orientação escolar, vocacional e tutorial nas escolas.
-
Diminuir a taxa de reprovações, identificando precocemente os obstáculos à
aprendizagem e conferindo às escolas meios materiais e humanos para superá-los,
reconhecendo que os alunos têm ritmos e necessidades diferentes.
-
Criar um departamento de desenvolvimento curricular, especializado e
permanente, que substituiria a cultura assente em grupos ad
hoc, sempre
que se operam intervenções em planos de estudo e programas.
-
Redefinir globalmente os planos de estudo e os programas disciplinares,
expurgando-os dos milhares de metas incumpríveis, sem sentido nem escala humana
razoável.
-
Diminuir as elevadas cargas curriculares actuais, desajustadas ao
desenvolvimento psicológico das crianças e recuperando a importância das artes,
expressões e actividades físicas e desportivas.
-
Reduzir o peso institucional e social dos exames nacionais e acabar com a sua
aplicação nos 4º e 6º anos de escolaridade.
-
Dignificar o ensino profissional e interditar qualquer adopção vocacional em
idade precoce.
-
Atrasar a entrada no ensino básico para os sete anos de idade.
-
Conceber um estatuto de carreira docente, em que os professores portugueses se
revejam, que seja instrumento de desburocratização da profissão e fixe um
referencial deontológico claro.
-
Revogar de imediato o actual modelo de avaliação do desempenho dos professores,
que perderá o seu carácter universal e será substituído por instrumentos
definidos autonomamente em cada unidade orgânica, privilegiando a avaliação do
desempenho da Escola, enquanto somatório do desempenho dos seus actores, sendo
certo que contextos científicos e pedagógicos diferentes não podem ser
avaliados do mesmo modo.
-
Reavaliar e reformular toda a legislação que regula os concursos e a
contratação dos professores, aceitando que devem ter sempre natureza nacional,
com base na graduação profissional dos candidatos.
- Redefinir toda a missão e
estrutura da Inspecção-Geral da Educação e Ciência, orientando-a
prioritariamente para a vertente pedagógica.
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