Actualmente,
a História de Portugal do último século, em especial a do tempo da ditadura e a
da institucionalização da democracia quase não é ensinada nas nossas escolas,
ao nível do ensino básico. Há uma imensidão de portugueses que conhece muito
mal esse período negro da nossa história recente que mediou entre 1926 e 1974. A
fome, a miséria, o analfabetismo, a mortalidade a todos os níveis, o
subdesenvolvimento, o desemprego, a polícia política, uma guerra interminável
nos territórios ultramarinos, para só citarmos alguns aspectos, eram problemas
gravíssimos num país com muitas décadas de atraso em relação ao resto da Europa.
A solução foi a emigração em condições extremamente dramáticas como refere este
pequeno texto (*) que transcrevemos do Diário
as beiras de hoje, com o sugestivo título “Quando éramos nós”.
Em
1961, Salazar tinha dificuldade em esconder a pobreza do país, especialmente a
pobreza rural, com migrantes internos a chegar continuamente às cidades e a
expor aquilo que o regime queria esconder. Nesse ano, a OCDE divulgou que Portugal
era o país da Europa com maior taxa de mortalidade infantil, a seguir à
Jugoslávia. A pobreza nacional passou a ser um assunto internacional quando a
emigração ilegal portuguesa se tornou evidente e revelada em comunicação social
europeia. Em 1964, o cônsul Português de Bayonne informou Salazar que tinham
sido detidos no mesmo dia 95 portugueses em Châtillon-sur-Indre (ler “Salazar”
de Filipe Ribeiro de Meneses, Dom Quixote, 2009).
Uma
rádio francesa registou um desses portugueses implorando de joelhos para não ser
mandado de volta para Portugal. A comunicação social francesa divulgou
reportagens dramáticas: meia centena de portugueses transportados em camiões frigoríficos;
travessias dos Pirenéus no inverno sem qualquer equipamento; portugueses
escondidos em cabanas durante dias sem se alimentar. Em 1964, o Consulado de
Paris recebia 600 portugueses por dia. Queixava-se o cônsul: “A aglomeração de
portugueses à porta do prédio é uma propaganda permanente contra o nosso país,
a sua apresentação é deplorável e os seus hábitos são impróprios no centro de
uma cidade”. Nos anos 60 saíram do país mais de um milhão de pessoas.
(*)
Rui Curado da Silva,
investigador
Imagem: bairro de lata de emigrantes portugueses
nos arredores de Paris (anos 60/70)
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