segunda-feira, 21 de setembro de 2015

IMIGRANTES NÃO SÃO TERRORISTAS NEM LADRÕES



As redes sociais têm servido de palco para tomadas de posição xenófobas a propósito da vaga de refugiados que fogem à guerra que eclodiu em vários países do Médio Oriente e do Norte de África, conflitos esses provocados por intervenções militares ocidentais, sem outro fundamento que não fosse o acesso às fontes de energia abundantes nessa zona, nomeadamente, o petróleo.
A xenofobia tem origem em grupos de interesses mal intencionados que, ardilosamente aproveita o medo criado nas populações com a possível vinda de elementos do Estado Islâmico, a que se acrescenta o receio de os imigrantes virem roubar os postos de trabalho aos portugueses/europeus assim como consumir os recursos económicos do velho continente.
A situação real não é essa, particularmente sob o ponto de vista económico, como refere o autor do texto (*) seguinte, que transcrevemos do Expresso Economia do passado sábado, não conotado com qualquer espécie de radicalismo político ou religioso.
O fluxo de refugiados em curso tem provocado reacções positivas e negativas por toda a União Europeia (EU). Alguns países, como a Alemanha e a Suécia, permitiram a entrada nas suas fronteiras a números maciços de refugiados. Esta hospitalidade baseou-se num sentimento surpreendentemente forte de solidariedade face a pessoas que sofrem as misérias de guerras civis cruéis. Outros, como o Reino Unido e a Hungria, brilharam por uma hostilidade sistemática relativamente aos mesmos refugiados. É surpreendente ver como emoções tão diferentes face aos refugiados podem coexistir na UE. Esta diferença a nível emocional também explica porque é tão difícil desenvolver uma política comum na matéria no seio da União.
Tudo indica que o fluxo de refugiados não vai diminuir tão depressa. As convicções morais têm até agora sido formadas na base da vontade de abrir fronteiras numa série de países do norte da UE para obrigar as pessoas que fogem da violência nos seus países. Pode dar-se, no entanto, que a moral seja posta de lado, sendo sabido que o fluxo de refugiados não pára de aumentar. A tentação de fechar as fronteiras torna-se neste momento muito grande.
Muitos temem que o fluxo contínuo de refugiados possa custar à UE muito dinheiro. Neste caso, os deveres morais são provavelmente afastados a favor dos económicos. Por outras palavras: se a imigração tiver um elevado custo económico, os sentimentos mais elevados e a moral não serão suficientes para manter uma política de fronteiras abertas para os refugiados.
Há boas notícias, porém. A imigração acabará por oferecer benefícios económicos significativos para os países que recebam imigrantes. A vasta maioria dos estudos sugere que a imigração promove o crescimento económico, não conduz a um aumento do desemprego e tem um efeito positivo no Orçamento do Estado. Passou-se isso na maioria dos países que no passado abriram as suas fronteiras aos migrantes. Não há razão nenhuma para crer que não será assim no futuro.
Há muitos mal-entendidos acerca disso. Baseiam-se normalmente numa falta de compreensão das mais básicas leis da economia. Veja-se a ideia popular de que os imigrantes tiram trabalho aos residentes nos países de destino. Essa ideia assenta na falácia de que o número de postos de trabalho num pais é fixo. Mas não é. Os migrantes economicamente ativos contribuem para a produção de bens e serviços. Isto permite-lhes consumir, o que pelo seu lado facilita que os outros produzam mais e assim sucessivamente. Portanto, a imigração leva a mais produção e em última instancia à criação de mais emprego. E isso é favorável do ponto de vista do Orçamento do Estado.
Quando as mulheres entraram em massa ano mercado de trabalho, nos anos 70 e 80, muitos alegaram que um posto de trabalho para uma mulher era um posto de trabalho a menos para um homem, resultando daí o crescimento do desemprego. Essa ideia baseava-se na falácia de que o número de empregos num dado país é fixo. Verificou-se que era um erro. Na maioria dos países em que as mulheres entraram em grande número no mercado de trabalho, o desemprego não aumentou porque as mulheres que se tornaram ativas contribuíram para uma expansão da capacidade produtiva do país. Isto, põe seu lado, tornou possível criar mais postos de trabalho.
Os efeitos económicos positivos da imigração só aparecerão, como é evidente, se os países da UE permitirem aos imigrantes trabalhar e os ajudarem ativamente a encontrar trabalho. Os refugiados que são ajudados a integrar-se na economia acabam por contribuir para o bem-estar económico.
Uma política de integração deste tipo custa dinheiro a curto prazo porque os refugiados têm de ser ajudados no início. Mas, a longo prazo, a União colherá os frutos económicos desta integração.
Não quero que se pense que estou a favor da imigração porque ela nos trará vantagens a prazo do ponto de vista económico. Os argumentos morais deveriam ser suficientes para manter as nossas fronteiras abertas. Mas é agradável perceber que fronteiras abertas são economicamente benéficas. A consciência de que a União Europeia beneficiará economicamente da chegada de refugiados pode dar um, empurrãozinho aos nossos deveres morais.
(*) Paul de Grawe, Professor da Universidade Católica de Lovaina, Bélgica

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