As
redes sociais têm servido de palco para tomadas de posição xenófobas a
propósito da vaga de refugiados que fogem à guerra que eclodiu em vários países
do Médio Oriente e do Norte de África, conflitos esses provocados por intervenções
militares ocidentais, sem outro fundamento que não fosse o acesso às fontes de
energia abundantes nessa zona, nomeadamente, o petróleo.
A
xenofobia tem origem em grupos de interesses mal intencionados que,
ardilosamente aproveita o medo criado nas populações com a possível vinda de
elementos do Estado Islâmico, a que se acrescenta o receio de os imigrantes
virem roubar os postos de trabalho aos portugueses/europeus assim como consumir
os recursos económicos do velho continente.
A
situação real não é essa, particularmente sob o ponto de vista económico, como refere
o autor do texto (*) seguinte, que transcrevemos do Expresso Economia do
passado sábado, não conotado com qualquer espécie de radicalismo político ou
religioso.
O
fluxo de refugiados em curso tem provocado reacções positivas e negativas por
toda a União Europeia (EU). Alguns países, como a Alemanha e a Suécia,
permitiram a entrada nas suas fronteiras a números maciços de refugiados. Esta hospitalidade
baseou-se num sentimento surpreendentemente forte de solidariedade face a
pessoas que sofrem as misérias de guerras civis cruéis. Outros, como o Reino
Unido e a Hungria, brilharam por uma hostilidade sistemática relativamente aos
mesmos refugiados. É surpreendente ver como emoções tão diferentes face aos
refugiados podem coexistir na UE. Esta diferença a nível emocional também
explica porque é tão difícil desenvolver uma política comum na matéria no seio
da União.
Tudo
indica que o fluxo de refugiados não vai diminuir tão depressa. As convicções
morais têm até agora sido formadas na base da vontade de abrir fronteiras numa
série de países do norte da UE para obrigar as pessoas que fogem da violência
nos seus países. Pode dar-se, no entanto, que a moral seja posta de lado, sendo
sabido que o fluxo de refugiados não pára de aumentar. A tentação de fechar as
fronteiras torna-se neste momento muito grande.
Muitos
temem que o fluxo contínuo de refugiados possa custar à UE muito dinheiro. Neste
caso, os deveres morais são provavelmente afastados a favor dos económicos. Por
outras palavras: se a imigração tiver um elevado custo económico, os sentimentos
mais elevados e a moral não serão suficientes para manter uma política de
fronteiras abertas para os refugiados.
Há
boas notícias, porém. A imigração acabará por oferecer benefícios económicos
significativos para os países que recebam imigrantes. A vasta maioria dos
estudos sugere que a imigração promove o crescimento económico, não conduz a um
aumento do desemprego e tem um efeito positivo no Orçamento do Estado. Passou-se
isso na maioria dos países que no passado abriram as suas fronteiras aos
migrantes. Não há razão nenhuma para crer que não será assim no futuro.
Há
muitos mal-entendidos acerca disso. Baseiam-se normalmente numa falta de compreensão
das mais básicas leis da economia. Veja-se a ideia popular de que os imigrantes
tiram trabalho aos residentes nos países de destino. Essa ideia assenta na
falácia de que o número de postos de trabalho num pais é fixo. Mas não é. Os migrantes
economicamente ativos contribuem para a produção de bens e serviços. Isto permite-lhes
consumir, o que pelo seu lado facilita que os outros produzam mais e assim
sucessivamente. Portanto, a imigração leva a mais produção e em última
instancia à criação de mais emprego. E isso é favorável do ponto de vista do
Orçamento do Estado.
Quando
as mulheres entraram em massa ano mercado de trabalho, nos anos 70 e 80, muitos
alegaram que um posto de trabalho para uma mulher era um posto de trabalho a
menos para um homem, resultando daí o crescimento do desemprego. Essa ideia
baseava-se na falácia de que o número de empregos num dado país é fixo. Verificou-se
que era um erro. Na maioria dos países em que as mulheres entraram em grande
número no mercado de trabalho, o desemprego não aumentou porque as mulheres que
se tornaram ativas contribuíram para uma expansão da capacidade produtiva do
país. Isto, põe seu lado, tornou possível criar mais postos de trabalho.
Os
efeitos económicos positivos da imigração só aparecerão, como é evidente, se os
países da UE permitirem aos imigrantes trabalhar e os ajudarem ativamente a
encontrar trabalho. Os refugiados que são ajudados a integrar-se na economia
acabam por contribuir para o bem-estar económico.
Uma
política de integração deste tipo custa dinheiro a curto prazo porque os
refugiados têm de ser ajudados no início. Mas, a longo prazo, a União colherá
os frutos económicos desta integração.
Não
quero que se pense que estou a favor da imigração porque ela nos trará
vantagens a prazo do ponto de vista económico. Os argumentos morais deveriam
ser suficientes para manter as nossas fronteiras abertas. Mas é agradável
perceber que fronteiras abertas são economicamente benéficas. A consciência de
que a União Europeia beneficiará economicamente da chegada de refugiados pode
dar um, empurrãozinho aos nossos deveres morais.
(*) Paul
de Grawe, Professor da Universidade Católica de Lovaina, Bélgica
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