quarta-feira, 21 de setembro de 2016

QUEM MAIS TEM DEVE PAGAR MAIS


Por uma questão de justiça fiscal, que o comum dos cidadãos compreende perfeitamente, é natural que quem receba mais deva pagar mais impostos. Acontece que, em Portugal, não e exactamente isto que acontece porque o grosso da carga dos impostos é suportado por quem trabalha e pelos titulares de pequenos rendimentos. Muitos portugueses têm a noção de que isto é uma realidade, mas foi preciso vir a público a proposta de imposto sobre patrimónios elevados para se saber em concreto alguns números que são escandalosos.
Numa entrevista que, há alguns meses deu à SIC o antigo director-geral “da Autoridade Tributária José Azevedo Pereira revelou que as 900 famílias mais ricas de Portugal, com património superior a 25 milhões de euros ou rendimento médio anual acima de 5 milhões, representavam uma percentagem irrisória da receita de IRS, da ordem dos 0,5 por cento, quando seria de esperar, de acordo com a lei, que pagassem 50 vezes mais” (*). É óbvio que deve ser dado a esta personalidade todo o crédito em virtude do cargo que desempenhou. O que não tem qualquer cabimento é a série de atoardas que têm sido debitadas pelo “país comentador” –muitas por razões meramente ideológicas – que parece “ter vindo abaixo com oanúncio de um novo imposto para o património mais elevado, que vai substituir oimposto de selo criado pelo governo Passos/Portas, prova que quem tem acesso àtelevisão não conhece o país em que vive, onde o salário médio é de 800 euros ea acumulação de património com valor tributário de 500 mil euros é umararidade. Não é valor de mercado: é valor tributário, o que é radicalmente diferente”.
Importante mesmo é levar a cabo um amplo esclarecimento da opinião pública para que não restem dúvidas de que em Portugal, apenas 1% dos contribuintes de IRS tem “propriedades de valor patrimonial agregado acima de 500 mil euros”. Se tivermos em conta o valor de 1 milhão de euros, esse número reduz-se para 8618, segundo dados da Autoridade Tributária.
Por último, é de realçar que nem toda a gente afecta à oposição ao Governo alinha pelo mesmo alarido que se tem vido a sentir, principalmente na comunicação social televisiva. Por exemplo, Joaquim Jorge, fundador do Clube dos Pensadores, que como se sabe não é um radical esquerdista, afirmou ontem aquilo que muitos já se esqueceram ou nunca souberam: No tempo deSá Carneiro, grande político de matriz social-democrata, era esse o princípio:pagar mais quem tem mais. Isso não era um ataque aos mais ricos, mas que haja justiça social. Todavia, neste país, toda a gente sabe que quem tem mais poder económico consegue de forma sub-reptícia fugir ao Fisco e pagar menos”.
(*) José Vítor Malheiros, Público

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